Aceite o DOS de Volta em sua Vida

Tirando algumas versões do Windows, bom, talvez quase todas, a noção de que a tecnologia segue um caminho de claro progresso em relação ao tempo é praticamente unânime. O computador mais novo é mais possante, a mais recente placa de vídeo calcula muito mais polígonos na tela simultaneamente e a realidade virtual está quase realizando o meu sonho de correr atrás de um bando de patos brandindo um graveto até que eles deem o fora da minha propriedade, malditos patos, em um mundo 3D de mentira.

Mesmo se você acreditar nessa história de que a cumulação de capacidade das máquinas está sendo automaticamente melhor para a vida e, mais especificamente, para os videogames, existe ainda muito o que fazer para tornar o passado acessível. Com a rápida mudança de hardware, muito do que já foi produzido para máquinas anteriores foi deixado para trás, todo mundo que gostava muito de um joguinho de DOS e não conseguia jogá-los por ter uma máquina rápida demais, sabe do que estou falando. Todo mundo que teve que fazer um disco de boot para aumentar a memória virtual da máquina para rodar um joguinho, todo mundo que tentava todas as opções de placa de som do SETUP.EXE porque não sabe o que caralho era um IRQ ou um DMA channel, mas testa todas as opções pra porra do som funcionar. Felizmente nos últimos anos muito foi feito no sentido de resgatar as pepitas perdidas nos sistemas operacionais passados, em especial os nossos queridos joguinhos.

Desde final do milênio passado vieram algumas ferramentas, movimentos e um crescente interesse em desenterrar o que foi feito nos primórdios dos jogos eletrônicos para mantermos vivo o que parecia perdido para sempre. É claro que a maior parte desse processo foi feita em nome da pirataria levemente escondida atrás de outras causas (olá movimento do Abandonware), mas em grande dos casos eles ajudavam a disponibilizar jogos que já não estavam mais disponíveis pelas vias legais. Com o crescimento das ferramentas de distribuição digital muita coisa foi colocada de volta na ativa, com consentimento das publishers que viram uma boa oportunidade de ganhar um dinheirinho com jogos feitos 15 ou 20 anos atrás. Nessa onda vieram sites como o Good Old Games, que começou como uma plataforma para a venda digital de antigos games, e acabou no final das contas virando um concorrente de outras ferramentas de venda e distribuição de jogos como o Steam.

Até recentemente a parte mais divertida do Internet Archive era o Wayback Machine. A ferramenta que permite você ver como eram as páginas anos e anos e anos atrás, como por exemplo esse home do Universo Online de 1996, esse gif animal que tinha no site oficial do governo brasileiro ou o site antigo do Yahoo nos mostrando como duas décadas atrás viviamos tempos mais simples, mais puros. O site criado em 1996 tem um mote que resume bem as visões mais otimistas da década de 90 sobre o que a internet poderia virar, Acesso Universal a Todo o Conhecimento, e em grande parte ele tenta e consegue praticar sua intenção inicial com seu arquivo de 10 petabytes, ou 1.000.000.000.000.000 bytes, disponibilizando tudo de maneira livre e gratuita para quem quer que o acesse.

Essa primeira semana útil de 2015 o site disponibilizou aproximadamente 2.400 jogos de MS-DOS em seus arquivos para você jogar direto do seu navegador. Se levarmos a sério as contas bobocas que a galera faz quando lançam um joguinho gratuito de fácil acesso na rede, a recém disponibilizada coleção de jogos do maravilhoso DOS custará aproximadamente o produto interno bruto da Namíbia por ano para a economia mundial. Isso se os clássicos preferidos da garotada rodarem assim tão fácil já que o serviço, ainda em fase beta, apresenta alguns probleminhas.

A galera do computer ainda está revirando a coleção para ver o que encontra, mas de pronto já temos acesso a clássicos como Prince of Persia, Wolfenstein 3D, Stunts, The Lost Vikings, além de muitos e muitos jogos de adventure de texto que provavelmente ninguém vai jogar, a não ser saudosos nerds oldschool. Um dos problemas da emulação dos jogos é que os títulos que dependem de mouse são quase impossíveis de jogar, como por exemplo Master of Magic, que foi a primeira coisa que eu quis jogar quando lançaram esse negócio, mas como o negócio está apenas começando provavelmente alguma hora vão arrumar isso. Inclusive a legalidade destes jogos da coleção parece não ser tão clara assim, já que ao procurar um dia depois por Master of Magic, ele já não estava mais disponível por lá. Todas essas questões vão ficar mais claras com o tempo, conforme as empresas responsáveis pelos jogos forem caindo em cima do site se eles subirem conteúdo protegido.

O que possibilita os jogos rodarem no seu navegador preferido é a magia tecnológica do DOSBox, emulador do sistema operacional de 1981. Em desenvolvimento desde 2002, o programa ainda está na versão 0.74, mas já fez muita gente feliz no mundo dos jogos eletrônicos de computador desde que foi lançado, já que muita coisa não rodava de jeito nenhum nos computadores modernos. A coleção, como 99,9999% da internet, ainda necessita de uma boa curadoria que consiga separar entulho de coisas realmente boas, mas nas próximas semanas é de se esperar centenas de listas de 22 Jogos De DOS Que Você Não Pode Perder. Aí é só questão de fazer uma curadoria do que presta e do que é lixo dentre essas listas. Tem muito jogo ruim, tem muito jogo péssimo, tem até jogo pornô de texto, mas se você é um velho garotão com certeza há de encontrar algo que o agrade por lá.

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