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Politică

Debate chato na Band jogou a favor da despolitização do eleitor

Nem a psicodelia argumentativa do Cabo Daciolo salvou o telespectador de cair no sono.
Foto original de Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados / Montagem com fundo via Wikicommons.

Então chegou aquele momento que assombra o Brasil como horizonte quase-apocalíptico desde o impeachment de Dilma Rousseff em 2016: as famigeradas eleições presidenciais de 2018. Desde que apeou-se a então presidente, o brasileiro quer poder voltar a decidir no voto quem manda no Executivo nacional (e também, torce-se, por mudanças substanciais no Legislativo). Não à toa o ex “decorativo” Michel Temer é o presidente mais impopular da história da nossa mirim democracia.

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Mas o eleitor que pensou que diante de um momento delicado como esse teríamos uma disputa pública de alto nível certamente se decepcionou. Assim como foi o tom da maioria dos debates às prefeituras do Rio de Janeiro e de São Paulo em 2016, a contenda de estreia do pleito de 2018, na noite desta quinta-feira (9) na rede Bandeirantes, ficou entre o anódino e o folclórico.

Na verdade parecia que a conversa ia começar quente: o debate abriu com Guilherme Boulos (PSOL) perguntando a Jair Bolsonaro (PSL) sobre a “Wal do Açaí”, funcionária fantasma empregada pelo ex-capitão que não dá expediente na Câmara, mas vende açaí em um distrito de Angra dos Reis. O ataque deixou Bolsonaro desconcertado e ele acabou pedindo para pular a tréplica sobre a qual teria direito.

Mas à medida que o debate avançou, o tom foi amenizando. Não faltaram escadinhas no campo da direita, quando um candidato pergunta a outro sobre uma proposta que ele mesmo também quer apresentar — a civilidade com que Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) se trataram na primeira troca de perguntas foi exemplar.

Ciro Gomes (PDT), com fama de brigão, foi o menos “acionado”, enquanto as perguntas ficaram mais concentradas em Alckmin. Henrique Meirelles (MDB), o representante do governo Temer, parecia um avô desmemoriado, sem terminar as frases e sem se preocupar em fazer muito sentido, enquanto Alvaro Dias (Podemos) parecia estupefaciado sob a sua própria nuvem de botox. Bolsonaro, por sinal, de terno amarfanhado, respondeu parte das perguntas sentado, sob visível efeito de uma dose extra de ansiolítico — lembrou muito o desempenho de Celso Russomanno (PRB) na disputa paulista de 2016.

Mas quando não se esperava nada mais, a internet zoeira ganhou um grande herói. Alçado à política pelas mãos do PSOL, o deputado federal Cabo Daciolo (Patriotas) puxou para si os holofotes e assumiu o papel de “maluco da vila”. Perguntou a Ciro Gomes sobre a Nova Ordem Mundial e de um plano maligno comunista para criar uma união socialista de todos os países da América Latina — que virou meme rapidinho. Nas considerações finais, aos berros, leu a Bíblia como se fosse pastor televisivo, provavelmente já almejando um lugar na programação sempre expansiva do televangelismo brasileiro.

No fim das contas o telespectador deve ter ficado mesmo é de saco cheio, ainda mais se arrastando das 22h até a 1h da manhã da sexta-feira (10), um horário pouco saudável para o trabalhador brasileiro. A formatação dos debates precisa melhorar, mas é difícil que isso aconteça durante uma campanha tão curta como esta, e com tantos candidatos — se o PT finalmente conseguir se coçar para colocar Fernando Haddad oficialmente no lugar de Lula, serão ao menos nove pessoas se digladiando. Do jeito que a coisa anda, quem vai crescer nas intenções de voto são os brancos e nulos mesmo.

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