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Estado Civil: GAMER. Como foi a BGS 2014

Sendo a maior feira de diversões eletrônicas do Brasil, a BGS estava lotada de brasilidade em todos os sentidos.

Eu acho que este cara do meio é um youtuber famoso? Provavelmente, mas sou velho demais para saber.

A maioria das reportagens na grande mídia sobre o Brasil Game Show (e outros eventos sobre vídeogame de maneira geral) costuma começar com os já famosos clichês contemporâneos como "Videogame já não é mais brincadeira de criança!" ou "A indústria de videogames já é maior do que o cinema americano!". Dando uma volta por qualquer evento voltado especificamente para o público consumidor, parece, pelo menos em relação à primeira constatação, meia mentira, já que a maioria apaixonada do público é, sim, mais nova, dividida grosseiramente entre fãs de Call of Duty, Assassin's Creed, League of Legends e DOTA. O resto do público da BGS consiste em algumas categorias, como os acompanhantes (O Pai Conformado, A Tia Legal, A Namorada Gente Boa) e o pessoal mais hardcore (O Jornalista de Games, O Gamemaníaco, A Mina Gamer, O Mano Gamer e O Cosplayer). Este ano não foi diferente, embora tenha tido algumas diferenças cruciais da última BGS, como a relatei no ano passado.

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Fico me perguntando da dificuldade de achar um fortão sem uma tatuagem cagada no braço para fazer um cosplay oficial mais puro, mais raiz.

Uma imagem pode ser interessante para entender o atual estado da BGS e também seu público. Havia, como no ano passado, muita gente com chapeuzinho e cosplay de League of Legends — o que não tinha era o jogo em si. A Riot, empresa responsável por essa sucessão dos jogos eletrônicos, já no mês de Junho anunciou que não iria participar da feira, alegando outras prioridades, como o campeonato brasileiro de League of Legends, entre outras dificuldade logísticas. Não foi apenas o pessoal da Riot que evitou a BGS deste ano; outras empresas que vi por lá no ano passado, como a Blizzard, a Nintendo, a Nvidia, a Square, entre outras gigantes da indústria das diversões eletrônicas, não estavam presentes dessa vez. Talvez eles tenham notado que não precisam assegurar seu espaço entre o público alvo da feira, que continuará sendo fã de seus jogos e continuará indo ao evento que, mesmo que se torne uma casca vazia, ainda cumpre um papel comunitário dentro da famosa cultura gamer.

Dá ou não dá vontade de fazer amizade com esta figura?

Este Bowser parece ligeiramente envergonhado de ter ido à BGS de 2014.

Sendo a maior feira de diversões eletrônicas do Brasil, a BGS estava lotada de brasilidade em todos os sentidos. Logo ao descer na estação Tietê do metrô, o Brasil de verdade mostrou sua face na forma de anunciantes de lotação que poderiam nos transportar para o Expo Center Norte, onde rolou a feira. Diferentemente do transporte oficial que fazia a baldeação do evento para o metrô, a máfia da lotação estava cobrando R$ 5 por cabeça; os responsáveis pelas vans anunciavam para as tiazinhas com crianças pequenas "O transporte oficial demora, viu? Tá passando de duas em duas horas só!", e amigos que colaram nos outros dias falaram da galera que ficou vendendo alimentos não perecíveis com o preço inflado em 300% para o pessoal poder doá-los na entrada e pagar meia.

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Nada como o alimento não perecível para fazer tudo parecer uma quermesse.

Máscaras e arminhas de mentira representando o Hotline Miami 2 no estande da Devolver.

Qual o público da BGS? Por que as pessoas queriam tanto habitar esse espaço asséptico mais desenhado para feiras de materiais de construção, implementos agrícolas e feirões de venda de imóveis? O que essas pessoas foram ver? Bom, embora muitas empresas do ramo dos games não tenham colado lá, ainda tinha bastante coisa e muitas filas para o público ver em primeira mão as mais recentes versões dos jogos que eles têm jogado repetidamente ano após ano e alguns novos games que poderiam ser experimentados. Em nome da minha sanidade, eu preferi não enfrentar duas horas de fila para ver os jogos embora quisesse ter jogado alguns deles, como o Bloodborne, o sucessor da bela séria Demon's Souls, o novo Mortal Kombat X e o aparentemente chatíssimo The Evil Within. O que eu consegui jogar foi na descoladíssima publisher Devolver Digital, em seu estande decorado com cartazes da reconhecível gráfica fidalga que dão esse ar tão Zona Oeste de São Paulo para o que quer que divulguem. A publisher trouxe uma versão mais recente de Hotline Miami 2, jogo que estou esperando desde o ano passado. Inclusive, foi lá que eu tive a melhor e mais genuína interação humana das que tive na feira ao jogar o recente Heavy Bullets. Eu estava apanhando de um robô que ficava atirando em mim e parecia ser invencível; um menino de aproximadamente nove anos, que estava do meu lado jogando o mesmo game, virou pra mim e falou: "Atira na caixa amarela que tem do lado do robô!". E pimba, deu certo. Grande moleque, obrigado pela dica e por não ter me chamado de "tio"!!!

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O descolado cartaz tipográfico que enfeitava o estande da Devolver Digital.

O que aconteceu do ano passado para cá no mundo dos games? A BGS é um bom marco do passar do tempo para os gamemaníacos brasileiros, onde eles podem se assegurar com mais propriedade que, sim, neste ano vai sair mais um Assassin's Creed e outro Call of Duty como um reloginho; e que eles vão reclamar disso ou daquilo, mas vão acabar comprando o jogo de qualquer forma. Outro game presente na feira foi o queridinho Destiny, com um monte de gente jogando o PvP dele mas sem nenhuma novidade para quem já está jogando o bagulho – como eu tenho jogado quase diariamente. Os mais novos jogos que têm versão para as gerações mais recentes de consoles também serviram para fazer a meninada pensar em que videogame da nova geração vai pedir para o Papai Noel, curiosamente simbolizado pela proximidade do estande da Playstation e do Xbox, cada qual mostrando seus títulos exclusivos como alavanca de marketing para seus hardwares.

Jogos genéricos gratuitos para jogar que nunca jogarei.

O sempre presente cosplay de League of Legends.

A impressão geral sobre quem compareceu à feira de 2014, segundo o pessoal com quem conversei, é o claro declínio – mas em que sentido? Está pior para quem? Bom, acho que para pessoas que, como eu, gostariam de ver diversidade de conteúdo e jogos interessantes que não se veria a princípio – o que absolutamente não rolou, mas tudo bem. Eu não sou o público alvo da feira; em geral, tanto faz para o grande público se o evento está melhor ou pior do que no ano passado. A BGS vai continuar existindo mesmo sem o apoio das grandes softhouses, em uma inércia natural do mercado de games que cresce cada vez mais nos variados nichos que não dependem mais, como antigamente, de binarismos como Sega x Nintendo ou preferências extremistas de plataforma, mas da multiplicidade de diferentes vertentes que conseguem coexistir em relativa paz. Mas existe uma coisa, pelo menos, que foi claramente melhor do que o ano passado.

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Apesar de em 2013, como representado na imagem acima, a máfia internacionalista dos churros já estarem presentes, ela ainda estava meio tímida, com pouco público, com apenas uma barraquinha. Neste ano, eles conseguiram dobrar sua presença: havia DUAS barracas de churros, ambas com uma fila considerável e frequentadores empolgados. Longa vida ao Churros.

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