Não Foi Fácil Criar a Primeira Federação de Luta Livre da Polônia

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Vice Blog

Não Foi Fácil Criar a Primeira Federação de Luta Livre da Polônia

Golpes arriscados, suor e muito sangue.

Eu nunca ia imaginar que pudesse existir qualquer coisa parecida com a luta livre norte-americana na Polônia. Mas eu estava enganado. A Do or Die Wrestling é a primeira federação profissional de luta livre do país. Fundada em 2009 na cidade de Rzeszów, sudeste do país, pelo lutador americano Don Roid (cujo nome verdadeiro é Daniel Austin), o objetivo da federação é promover o esporte no Leste Europeu.

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Algumas semanas atrás, a Do or Die Wrestling realizou um evento num centro comunitário de Varsóvia. Apesar de o show não ter muito a ver com o que eu tinha visto na TV, as lutas foram espetaculares – cheias de golpes arriscados, suor e muito sangue. Não era somente uma luta livre – era uma luta livre muito polonesa. Depois do show, bati um papo com Don Roid.

Você é um norte-americano que se mudou para a Polônia e montou uma federação de luta livre profissional. Fale um pouco mais sobre você e como tudo isso aconteceu.
Don Roid: Meu nome é Daniel Austin, mas no ringue eu sou Don Roid. Nasci na Pensilvânia em 1981 e, desde que consigo me lembrar, sempre adorei luta livre. Minha mãe trabalhava numa estação de rádio local, então sempre que a WWF [World Wrestling Federation] estava na cidade, ela me dava ingressos grátis e me levava para ver as lutas. Vi Hulk Hogan, Ultimate Warrior e André, o Gigante, em ação. Foi aí que decidi ser como esses caras – um lutador. Quando era adolescente, eu lutava com meus amigos no quintal de casa e, quando fiz 19, viajei para Nova Jersey para meu primeiro treino profissional.

Quem era seu treinador?
Um lutador chamado The Executioner. Ele já era meio velho quando me chamou – ele provavelmente tinha uns 60 anos – então eu treinava com seu filho. Minha primeira luta aconteceu um ano depois. Nunca vou esquecer.

Como foi?
O Executioner decidiu que eu estava pronto em janeiro de 2001. Ele marcou uma luta para mim num ginásio de uma escola de Nova Jersey, que ficava umas seis horas de carro de onde eu morava. Eu não tinha carteira de motorista na época, então um amigo me levou. Tinha bastante gente na plateia, umas 700 ou 800 pessoas. Eu sabia que alguns astros contemporâneos do WWE [World Wrestling Enterteinment] também lutariam naquela noite – Brutus “O Barbeiro” Beefcake e a dupla Bushwackers.

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Conheci o Butch do Bushwackers no vestiário, mas o parceiro dele não estava lá. Quando perguntei onde ele estava, o Butch me disse: “Ele está no vestiário feminino, ele é gay”. Alguns momentos depois também descobrir que uma luta de anões estava marcada para a mesma noite.

Um começo lindo. E como foi a luta?
Trágica. Primeiro eles esqueceram de mim, depois, quando finalmente pisei no ringue, minha brecha durou só três ou quatro minutos. Perdi por pinfall – meu oponente me pegou num Boston Crab. Mais tarde, na volta, meu amigo dormiu no volante e caímos numa vala. Ainda bem que nada aconteceu com a gente.

Joe Legend vs Don Roid. Foto por Attila Husejnow.

Pelo visto isso não assustou você.
Isso mesmo. Continuei lutando nos quatro anos seguintes – principalmente nos EUA, mas também fui para a Alemanha algumas vezes. Comecei a sair com uma garota polonesa nessas viagens. Ela morava em Rzeszów e hoje ela é minha esposa.

Foi por isso que você decidiu se mudar para a Polônia e fundar sua própria federação?
Mudei para cá em 2005, para ficar com minha esposa, mas isso não me impediu de lutar. Comecei a me apresentar por toda Europa – principalmente França, Suíça, Alemanha e Áustria. Levei quatro anos para criar a Do or Die Wrestling, a primeira federação polonesa e, ao mesmo tempo, a primeira escola de luta livre do Leste Europeu.

É uma forma de entretenimento bem norte-americana. O que os poloneses acham disso?
Não sei se os poloneses entendem muito bem a luta livre profissional. A história de vocês é cheia de guerras, vocês estavam sempre em batalha com alguém – então a própria ideia de luta, mesmo como esporte, é um negócio muito sério pra vocês.

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No geral, como nação, vocês são muito sérios. Os norte-americanos conseguem relaxar um pouco. Entendemos que isso é só entretenimento. Isso ainda é um esporte, mesmo que tudo o que aconteça no ringue possa machucar bastante, isso é estritamente para a diversão do público.

Joe Legend vs Don Roid. Foto por Attila Husejnow.

Uma diversão meio masoquista, não?
De certa maneira sim. A dor é real – nosso corpo cai no chão de madeira, não num trampolim. Mas também treinamos muito para que ninguém se machuque seriamente. É isso que nos separa do MMA. Nossas lutas têm que ser espetaculares. No MMA, os caras lutam em pé só nos primeiros minutos, depois isso vira um luta no chão e eles passam o resto do round se arrastando pelo octógono.

Sim, mas as lutas de vocês são armadas.
Não inteiramente. Claro, planejamos muito antes da luta, isso não é segredo. Trinta anos atrás as pessoas realmente não sabiam se o que fazíamos no ringue era real ou não, mas isso faz muito tempo.

O que você lembra dos primeiros dias do DDW?
Achei que as pessoas iam enlouquecer com isso, já que não existia nada assim na Polônia. Achei que um monte de adolescentes ia querer se inscrever para treinar e depois se juntar à federação. Eu estava errado. Mas ainda consegui criar um time de luta livre polonês que não se apresenta só aqui, mas que luta no exterior também.

Don Roid. Foto por Attila Husejnow.

Você pode dizer o nome de alguns dos lutadores?
Kamil Aleksander, Klarys, Luksus, o Belo Cavaleiro – e Bianka, a primeira lutadora polonesa. E muitos outros.

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Que tipo de pessoa frequenta os eventos?
Varia. Em Varsóvia, principalmente universitários; em Rzeszów, mais famílias, e na Breslávia a plateia é bem mista. Nunca sei quem vai aparecer.

Você lembra de alguma luta em particular ou alguma anedota?
Sim, durante um luta me bateram com uma corrente e minha cabeça começou a sangrar muito. Caí do ringue e um moleque que estava sentado na primeira fila tinha certeza de que o corte era falso – ele disse para os amigos “É só ketchup!”, aí enfiou o dedo na minha ferida e colocou na boca.

Caramba!
É, ele ficou literalmente verde.

Tradução: Marina Schnoor