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cenas

Olá, estou prestes a morrer

Porque matei pessoas.

Há uns meses, um prisioneiro do Nevada que estava no corredor da morte enviou-nos uma carta. O seu nome é Scott Dozier e, no papel, parece ser um bom tipo. Por outro lado, antes de ser preso, o gajo roubou 12 mil dólares a outra pessoa, um tipo que tinha ido ter com ele para lhe comprar metadona. Não satisfeito, o Scott alvejou-o, cortou-lhe o corpo em duas partes e enfiou ambas numa mala. Em 2002, matou outro homem, cujos braços e cabeça nunca foram encontrados. Por isso, não te esqueças disto, enquanto lês um excerto da carta que ele nos enviou: Caríssima malta da VICE. Vocês são hilariantes e incríveis. Adoro-vos. Gosto de vocês e não o demonstro de uma maneira previsível, não daquela forma que poderiam imaginar que um gajo no corredor da morte se exprime. Conseguiram-me convencer de que têm uma equipa de lésbicas — o que é fascinante, mas, mais uma fez, acho que não estão à espera que alguém que está no corredor da morte diga “uau, acho encantador que sejam lésbicas”. Estou a dispersar-me, o objectivo desta carta é outro. Se alguma vez tiveram o mais remoto interesse pessoal, ou jornalístico sobre a vida no corredor da morte, sobre como é que um indivíduo “condenado a desaparecer” passa o tempo, sobre as suas ligações, ou sobre as dinâmicas de alguém que não é assustador… Eu sou a pessoa por quem estavam à espera. Já vos tinha escrito uma vez e não obtive resposta. Muito provavelmente, continuarei a fazê-lo até que chegue a sentença governamental para o assassinato do meu ser físico (e talvez, para o aniquilamento da minha “alma”, mas logo se vê isso). Como ainda tenho algum tempo — e uma catastrófica escassez de inteligência, graça e graciosidade —, estou disposto a continuar. Até porque, até à minha morte, as únicas coisas que farei serão desenhar e ir ao ginásio. Se estiverem interessados, podem ir cuscar as minhas postas de pescada (prontas a consumir) na minha página/mural de Facebook — seja lá como é que isso se chama. Na eventualidade de estarem a reflectir sobra essa questão: não, eu não tenho acesso ao Facebook, nem a um computador. Quem trata de tudo é a minha irmã e uma amiga. Desde já, os meus sinceros agradecimentos por todas as alegrias que me têm trazido. Adoro o vosso trabalho (e sim, casaria com ele). Tratem-se bem e muitas, muitas, muitas felicidades. Com os melhores cumprimentos, S.R. Dozier (Skoti)