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Uma Festa Gay Londrina de Fetiche por Roupas Esportivas

Uma festa no pequeno enclave de Vauxhall, em Londres, que tem mais ou menos uma dúzia dos clubes gays de fetiche mais barra-pesada da cidade.

Ouvi falar sobre um clube noturno que encoraja pessoas vestidas com abrigos de moletom a frequentarem o lugar. É uma festa na qual você não só pode ir usando seus Reebok Classics, como isso é quase uma exigência. Meu estilo foda-se quando o assunto é roupa de balada já me fez ser barrado em mais clubes que o Joey Barton, então achei que esse era o rolê pra mim. Mesmo sendo uma noite gay dedicada ao fetiche por roupas esportivas.

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A festa fazia parte da Fetish Week London, e fiquei sabendo dela pelo site associado trackies.com, que é tipo um Grindr pra caras que curtem enfiar a barra da calça de moletom dentro da meia. A clientela deles é uma mistura estranha, tinham muitos perfis aparentemente reais, caras com nicks como “FitScallyLad” e fotos que pareciam tiradas em propriedades de Wythenshawe para a seção “O Pior Pai da Inglaterra” do The Sun.

Mas você também encontra muitos perfis obviamente falsos com fotos surrupiadas de bancos de imagem, como o “Jules” aqui. Caras que não estão realmente interessados no visual, e sim no elemento dúbio de fetichização da classe trabalhadora dessa subcultura. E apesar disso, tem uma coisa muito romântica no fato de que gente como o Jules e o “FitScallyLad” possam se apaixonar, ou mesmo se encontrar em outro cenário que não seja uma briga no estacionamento de um McDonald's.

Também tem várias fotos de grupo no site, e sem dúvida alguns dos participantes não faziam a menor ideia de onde essas imagens iam parar. Coitados dos caras, eles deviam achar que estavam filmando um vídeo com sua gangue inteira vestida de preto pra botar medo nos seus rivais online, mas na verdade, o Jules foi lá e roubou.

De qualquer jeito, me pareceu o tipo de lugar onde um baunilha como eu podia aparecer sem ser sabatinado sobre o código underground vigente enquanto um segurança olha dentro da minha alma pra saber seu eu sou um cara sincero ou um paga pau.

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Primeira coisa, eu precisava de um visual “sportswear”. A propaganda dizia que era uma festa “sports cruise”, sendo assim furtei um casaco, um moletom K-Swiss (valeu, gente!) e uma camiseta do (agora defunto) time de futebol feminino da VICE. O resultado final me deixou parecendo mais um jogador de futebol semiprofissional obrigado a treinar num parque depois de ser dispensado pelo Fisher Athletic do que um garoto dos sonhos do Kenneth Anger. Mas era esse o visual que ia me fazer passar pelos seguranças.

. Esse foi um passeio num dia de semana, mas nos finais de semana, a maioria dos clubes de Vauxhall não esquentam até o dia amanhecer. E posso te garantir que não tem nada que te faça sentir um hétero mais besta do que alguém tentando te vender quetamina enquanto você faz o caminho de volta pra casa choramingando porque são sete de amanhã e você ainda não está na cama.

O lugar onde aconteceria a festa “sports cruise” era uma casa chamada The Hoist. Ela é famosa por suas festas SBN, ou “stark bollock naked” (festas nas quais todos vão totalmente nus, sem nem relógio de pulso), um dress code que qualquer um consegue cumprir. Uniformes também são populares no The Hoist, e eu logo vi que esses caras eram clientes regulares do clube, não dá pra pegar muitos canos de andaime usando uma camisa polo.

Depois de dar uma rolê por ali com meu fotógrafo Nick, decidi entrar numa brecha. O que poderia dar errado, né? A gente entra, dá umas voltas, toma umas brejas, escuta um pouco de Skinnyman e faz algumas fotos dos colegas alegres se curtindo com camisetonas Ellesse… Certo?

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Nem fudendo. A gente estava em Vauxhall, porra.

Entrar na verdade foi muito mais fácil do que eu esperava, o segurança pediu nossas identidades e acenou nos liberando. Com a câmera ainda guardada na bolsa, entramos no que a gente achava que era a pista de dança. Mas não, era o vestiário.

Foi aí que notamos que aquela não era uma festa de caras jovens problemáticos de calça Adidas cheirando poppers, como o site sugeria. Era mais um monte de fisiculturistas suecos usando Lycra e GHB. A “sportswear” do panfleto era mais WWE do que JJB Sports: todo mundo estava usando aqueles uniformes brilhantes de luta romana do colegial. Fiquei com vergonha e tentei desviar o olhar de todas as bundas nuas ao meu redor, mas minha visão só se deparava com boquetes.

Não fiquei chocado por causa desse lance de homem com homem, mas porque era tudo muito na cara. Tenho certeza que teria a mesma reação se estivesse numa festa de swing em Sittingbourne. É uma coisa muito desorientadora ver uma boca sendo fodida enquanto as pessoas ao lado educadamente brindam como se nada estivesse acontecendo.

O cara que estava no caixa da entrada parecia um Peter Gabriel com piercing no queixo e problemas de tireoide, quando perguntei onde poderia conseguir um recibo das despesas, ele deu um risinho e apontou para uma fila que parecia ser para alugar os equipamentos de luta. Quando entrei na fila de pelados, lembrei da primeira vez que fui ao paintball quando era criança. Eu estava tenso, na fila com um monte de caras que tomavam shakes de proteína pra alugar um uniforme em que eu sabia que não me sentiria confortável.

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Nessa hora, o Kick tirou seu canhão de artilharia, a câmera, da bolsa. E em segundos, o porteiro brincalhão virou pra gente e sacudiu o dedo. Tínhamos sido descobertos. Parece que caras que frequentam noites underground de fetiche são incrivelmente tímidos com câmeras. Me arrastei até a saída, fingindo ter que atender o telefone. Mas só precisava mesmo respirar. Enquanto rumava para a saída, um carinha do meu lado colocou alguma coisa fofinha na minha mão. Me virei lentamente para olhar para ele, esperando o pior.

“Aqui, sua toalha de porra, amigo”, ele disse, sorrindo como um garçom simpático entregando uma toalha quente num restaurante japonês.

E aqui está ela, o item da agressão. Posso não ter conseguido um recibo para apresentar pro departamento financeiro, mas certeza que uma toalhinha de porra amassada é suficiente, né? Não existe prova de gastos melhor do que uma toalha de porra.

Andando de volta pro metrô, me senti simultaneamente mais jovem e hétero do que nunca. Estou habituado a ficar bêbado em lugares onde a maioria das pessoas não iria, mas o The Hoist foi demais.

Puts, sou muito n00b do fetichismo barra-pesada.