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Tecnologia

Este Cara se Filma Sentado e Sorrindo por Quatro Horas Seguidas por Dia

Até agora, ele já postou 116 horas desse tipo de filmagem sem dar nenhuma explicação razoável.

Nos últimos seis meses, por quatro horas seguidas, Benjamin Bennett entra numa sala vazia e faz um livestreaming de si mesmo, sentado imóvel e sorridente num silêncio meio zen. Até agora, ele já postou 116 horas desse tipo de filmagem sem dar nenhuma explicação razoável. Quando o trabalho de Ben foi descoberto, no meio do seu 25º livestream, todo mundo ficou querendo saber por que alguém gastaria seu tempo fazendo isso. Arte? Meditação? Doença mental?

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À primeira vista, isso parecia ser uma forma de arte duracional, que é mais uma questão de resistência do performer do que do conteúdo da obra em si. Por exemplo: cerca de um ano e meio atrás, Jay-Z cantou "Picasso Baby" seguidamente por seis horas, direto, na Pace Gallery, em Nova York. Em 1963, John Cage obrigou um bando de pianistas a tocar "Vexations", de Erik Satie, 840 vezes, tudo por causa de uma anotação de brincadeira na margem da composição. Talvez o artista duracional mais famoso seja Tehching Hsieh, que fez uma série de projetos do tipo, incluindo um em que ele se trancava numa jaula sem poder falar, ler, escrever, ver TV ou ouvir rádio por um ano. Ele passou outro ano vivendo nas ruas, se recusando a entrar em qualquer prédio; em outro ano, ele se amarrou a uma artista com uma corda e não podia tocá-la.

Comparando com coisas assim, as sessões de quatro horas de Ben parecem fáceis, mas seus trabalhos aparentemente seguem na mesma linha. Pedi que ele me ligasse depois de uma de suas sessões, às quais assisti intermitentemente entre o café da manhã e o almoço. Foi inquietante. Ele me telefonou logo depois que o vídeo acabou e fazia longas pausas de dez segundos antes de responder cada pergunta.

VICE: Você acabou de terminar uma sessão. Como você se sente?
Benjamin Bennett: Bem normal. Meu rosto e minhas pernas doem um pouco, mas parece que me recupero da dor cada vez mais rapidamente.

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Por que você começou a fazer isso?
Não sei. Parecia algo que faltava na internet. Algo que precisava ser feito, e ninguém mais ia fazer.

Mas o que você sentia que estava faltando? Qual o propósito?
Não há realmente um propósito. Meu inbox está cheio de pessoas perguntando por que estou fazendo isso, mas não acho que essa questão seja realmente aplicável a esse tipo de atividade.

Bom, quer dizer, a maioria das pessoas não ia sentar e sorrir para uma câmera por quatro horas seguidas…
Claro.

Acho que não entendi mesmo. Isso é arte performática?
É, você pode colocar isso num contexto de arte performática, e eu realmente me interesso por arte performática e estética relacional. Na verdade, acho que não é tão importante o que eu considero que isso seja – é mais importante o que o espectador considera. Não é necessário que eu categorize isso. Um livro sobre esse tópico que me influenciou muito foi Artificial Hells: Participatory Art and the Politics of Spectatorship, de Claire Bishop. Ela é brilhante. Mas não sinto que isso seja uma coisa prescritiva: é só o que você vê. Se alguém consegue assistir a isso, acho que essa pessoa entende. Mesmo se a pessoa achar que não entende, acho que o que ela percebe como sendo seu não entendimento é, na verdade, o entendimento correto.

Você se prepara de alguma forma?
Tomo um pouco de água e faço xixi antes.

Você fica com fome ou tem vontade de ir ao banheiro durante as sessões?
Não, nunca fico com fome quando faço isso e não tenho de comer muito nos dias de sessão. Uma vez me esqueci de fazer xixi antes e fiquei surpreso que o vídeo não tenha recebido mais comentários.

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O que aconteceu?
Acho que vou deixar isso como um mistério.

Certo. Por que o sorriso?
Acho que, se eu não estivesse sorrindo, isso pareceria apenas meditação e que eu sou só um cara com complexo de mártir. Acho que ninguém assistiria a isso ou se interessaria em assistir. E acho que sorrir é uma reflexão melhor de como eu gostaria de abordar o mundo, melhor do que se eu estivesse apenas sentado sem sorrir. Acho que isso compensa a seriedade da duração.

Li que se forçar a sorrir quando não se quer faz você se sentir feliz. Você se sente mais feliz?
Às vezes, sim. Acho que, no começo, apenas olhar para mim sorrindo era muito divertido e isso me fazia sorrir ainda mais, o que criava um loop de feedback. Às vezes, me sinto hilário; às vezes, triste, mas na maior parte do tempo me sinto normal. Acho que é possível ver uma variedade de emoções no meu rosto através do sorriso.

Você fica se vendo na tela o tempo todo?
Sim.

Em certo momento de um dos seus vídeos, alguém invadiu sua casa e você não reagiu. Como foi isso?
Foi perto do Dia de Ação de Graças. Ouvi uma batida na porta e eu estava sozinho em casa. Aí ouvi batidas mais fortes e alguém se esgueirando até a escada enquanto eu estava no segundo andar. Isso já era suspeito, porque o colega que divide a casa comigo tinha ido trabalhar; então, eu tinha uma ideia de que alguém tinha invadido, mas sabia desde o começo que não ia me mexer. Aí o ouvi subindo as escadas bem devagar e vindo ao meu quarto. Ele abriu a porta e disse "Olá?", e eu não me mexi. Aí ele fechou a porta e foi embora. E eu terminei a sessão. Descobri depois que ele tinha chutado a porta.

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Você pode ver alguém abrindo a porta em 2:36:30.

Uau. Por que é tão importante manter isso enquanto alguém invade sua casa? Por que não pausar o vídeo, ver quem é e fazer outra sessão depois?
Bom, eu sabia que, desde que eu não reagisse, seja lá o que acontecesse naquela situação, seria um vídeo incrível. Acho que fazer aquele vídeo era mais importante para mim na época. Eu estava transmitindo tudo ao vivo, mas acho que não tinha ninguém assistindo naquele momento. Meu coração estava disparado, mas eu sabia que não reagir era a melhor coisa a fazer, e agora tem esse cara por aí com sua própria história estranha para contar.

A frequência dos vídeos está aumentando. Por quê?
Estou achando que isso é um bom uso para o meu tempo, acho. Além disso, eu achava que teria mais horas disso online antes que alguém notasse, porque aí seria mais legal quando alguém achasse isso por aí.

Você faria isso por mais de quatro horas por vez?
Estava pensando em tornar isso meu trabalho em período integral: sentar e sorrir por 40 horas por semana. Mas ainda preciso me sustentar de uma maneira que não seja degradante para o trabalho. Conseguir doações seria uma maneira decente de fazer isso, mas continuar com meu trabalho normal [numa estação de rádio pública] seria a melhor maneira. Ou eu podia ir gastando lentamente minhas economias e pensar no que fazer depois. Até agora, com o botão de doações do meu site, recebi um total de US$ 24 – metade disso dado pela minha mãe.

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Que tipo de resposta você tem recebido até agora?
Os comentários no YouTube e em outros sites são de desdém, mas os e-mails que recebo são mais positivos e de apoio. Recebo e-mails do mundo todo, de gente dizendo coisas muito legais. Acho que muita gente que me escreve se interessa por meditação ou medita, e elas gostam da ideia do que estou fazendo. Muita gente diz que isso faz elas sorrirem.

Só o fato de você estar transmitindo isso parece indicar que você quer uma reação.
Não estou procurando por uma reação, mas deixo as pessoas decidirem – é pegar ou largar. Alguns artistas que são relevantes para isso são Tehching Hsieh e Tom Friedman, com sua obra 1,000 Hours of Staring, apesar disso que faço não ser nada em comparação.

Você se preocupa com algum efeito posterior?
Alguém me disse que pessoas que trabalham na indústria de serviços – que têm de sorrir o tempo todo mesmo quando não querem – morrem mais cedo. Mas não sei se isso é verdade.

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Tradução: Marina Schnoor