Dois anos atrás, refugiados que procuravam asilo na Alemanha atingiram o limite de suas forças. O grupo, espalhado por várias instalações de todo o país, ficou de saco cheio da maneira como era tratado sob a lei “Residenzpflicht”, que exige que aqueles com status de refugiado vivam dentro de certas fronteiras geográficas. A lei foi apresentada ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos em 2007 como uma violação dos direitos humanos fundamentais, mas o tribunal não aceitou julgar a queixa.Para protestar contra a lei, e o que eles consideravam sérias limitações à sua liberdade, os refugiados decidiram deixar os abrigos e rumar para a capital. As exigências deles na época incluíam abolição da Residenzpflicht e o desenvolvimento de outras leis que permitissem que os refugiados se integrassem à sociedade. O que eles conseguiram foi um pedaço da Oranienplatz, um praça do bairro Kreuzberg em Berlim, onde eles tiveram permissão para armar suas barracas.O acampamento logo se tornou um ponto focal do debate crescente sobre a política de asilo alemã, bem com da europeia, além de uma grande dor de cabeça administrativa para a municipalidade de Kreuzberg. Monika Herrmann – prefeita do distrito e representante do Partido Verde – tolerou o acampamento por mais de um ano e meio, enquanto entrava em negociações arrastadas com os refugiados e era criticada tanto pela esquerda como pela direita.De um lado, conservadores e moradores locais reclamavam da ilegalidade e da anarquia no acampamento; do outro, ativistas de esquerda e simpatizantes da luta dos refugiados criticavam a administração pela falta de vontade em fazer as concessões que acabariam com o protesto. No entanto, muitas das exigências dos refugiados (como a abolição da Residenzpflicht e a garantia de permissões de residência) envolviam a legislação federal, algo que os administradores de Berlim não tinham como influenciar.Finalmente, no começo do mês passado, os oficiais ofereceram colocar a deportação dos refugiados em suspenso por mais seis meses, sob a condição de que eles desmontassem o acampamento e se mudassem para a moradia fornecida pela cidade. Vários refugiados, cansados das condições precárias do acampamento, viram isso como uma grande oportunidade, enquanto outros viram a proposta como um movimento manipulativo para inviabilizar a causa com promessas vazias.Hoje, o senador do Interior de Berlim, Frank Henkel, e o chefe de polícia, Klaus Kandt, devem estar extasiados. O campo de refugiados da Oranienplatz em Kreuzberg foi evacuado na terça-feira, e – miraculosamente – a polícia não teve que usar a força – uma aula de como fazer um movimento de protesto se desgastar lentamente até implodir, sem que o estado precise levantar um dedo.Por volta das seis da manhã da terça, um grupo de migrantes – armados com martelos, pés de cabra e facas – foi até o acampamento e começou a demolir os barracos que eles mesmos tinham montado. Ignorando os apelos de outros refugiados e residentes que não queriam abandonar a luta, eles destruíram gradualmente todas as barracas e habitações.Como você pode imaginar, isso rapidamente exacerbou as tensões entre diferentes facções dos refugiados. Mais facas e pés-de-cabra apareceram, levando a vários confrontos e uma briga entre refugiados e ativistas. Nenhum policial apareceu na praça até o final da tarde.Os eventos de quarta-feira foram o resultado de uma abordagem tática, concebida meses atrás pela cidade de Berlim. Dilek Kolat, o ministro da Integração de Berlim, se comprometeu a resolver o problema da Oranienplatz em janeiro. Para encontrar uma solução, ele convidou várias delegações do acampamento de refugiados para uma reunião. Quando ficou claro que os manifestantes tinham expectativas e exigências muito diferentes, Kolat passou a, pouco a pouco, excluir certos grupos e incluir outros.No final das negociações, Kolat se concentrou no grupo dos chamados refugiados de Lampedusa, que – diferente dos outros à procura de asilo – tinham documentos italianos válidos e receberam a promessa de pagamento em dinheiro e acomodação pelos próximos seis meses. Outros grupos de refugiados não acharam a oferta boa o suficiente, e Kolat conseguiu dividir o movimento. As exigências originais – abolição das obrigações de residência, abolição de todas as deportações – foram desbotando cada vez mais.Os protestos na Oranienplatz continuam, e os ativistas se reuniram lá esta manhã para mostrar solidariedade aos refugiados que não aceitaram a proposta do governo. Mas, agora que metade da batalha foi vencida pelas autoridades, podemos assumir que as exigências deles não serão ouvidas tão cedo.
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