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cenas

É altura de toda a gente deixar de sair do armário

Deixem de justificar o que são e do que gostam.

Uma amiga minha passou, recentemente, uma grande parte da noite a curtir com um gajo que conhecíamos há pouco tempo e que toda a gente pensava que era gay. Foram, basicamente, só uns beijinhos entre o gay platónico e a gaja hetero. Nada de especial, certo? Bem, mais ou menos: a meio da noite percebemos que nunca tínhamos perguntado ao gajo qual era a sua orientação sexual. Ele nunca tinha mencionado a existência de um namorado e parecia muito empenhado em beijar/apalpar a minha amiga (muito gaja, mas muito solteira). Quando finalmente lhe perguntámos para que lado dava — todos nós assumimos que ele era gay por causa do corte de cabelo e da roupa (sim, podem chamar a polícia do preconceito para nos bater) —, ele respondeu: “Gay? Tenho 20 anos, sei lá.” Até que chegou à conclusão "hetero-flexível, suponho" e bazou para ir flirtar com o empregado de bar. Já tinha ouvido esta palavra antes e tenho sentimentos ambíguos em relação a ela. Por um lado, jogar nas duas equipas é uma cena que tendo a evitar, mas, por outro, compreendo perfeitamente o que ele quer dizer. Há outra amiga minha que usa a palavra “hetero-flexível” para explicar que é mais gay do que hetero. O Dan Savage (a versão mais nova, mais sexy e mais masculina da Dr. Ruth) catalogou a sua relação como “semi-monogâmica”, ou seja, ele e o seu parceiro não dormem normalmente com outras pessoas, embora isso por vezes aconteça. Na sua rubrica, o Dan também afirmou que “a fluidez sexual dá-nos um grande poder”, apesar de ele achar que só as mulheres é que são sexualmente fluídas — o que, na minha opinião, é uma valente merda. Merda da quente e da grossa, nas bocas de homens hetero. Este novo vocabulário do sexo, cheio de qualificadores que sugerem que uma pessoa é, mais ou menos, assim e meio que assado, é uma extensão do infindável guarda-chuva de diferentes identidades sexuais e de género. Parecem até existir duas escolas de pensamento. Há pessoas que dizem cenas como “sou um bicha, um pan-sexual, um genderqueer" numa tentativa desesperada de se definirem sexualmente. E depois há aqueles que odeiam esse exercício de auto-definição com a mesma ferocidade com que os australianos odeiam focas. Talvez eu seja demasiado preguiçosa para pensar em nomes para a minha própria sexualidade, mas não me atrai muito a cena de escolher adjectivos para definir uma espécie de personagem sexual. E mais: se a alternativa a estas mega-descrições é utilizar palavras inventadas, tipo "heterozado” ou "gaycasional”, fica claro para mim que estas palavras não são linguisticamente úteis e que estão desfasadas do seu significado sociológico. Ignorando quão divertida é a palavra “fluído” neste contexto (a sério, malta: fluídos?), acho que o conceito de fluidez sexual e toda esta confusão de termos contrastantes, podem levantar a mesma questão: será que estamos a caminhar para um cenário, não muito distante, em que não teremos de sair do armário? Será que podemos sentar-nos com os nossos pais em qualquer altura da nossa adolescência e dizer algo como: “Pai, mãe: agora interesso-me por sexo. Não vos interessa por qual deles. Sim, sim, eu sei que a segurança vem primeiro. Bem, tenho de bazar." Sair do armário hoje em dia é lixado, porque é algo de definitivo. E se anunciarem ao mundo que gostam de gajas e depois encontram um gajo que querem montar? E se pensaram que curtiam era a vida monogâmica, mas, afinal, o que gostam mesmo é de uma tribo do amor a três? E se são um casal normal e feliz (sem qualquer tipo de interesse em fazer swing ou de participar em orgias) duas pessoas que só querem ver filmes e envelhecer juntos? Não seria mais fácil se não tivessem de dar explicações a ninguém sobre o assunto? Tecnicamente, não precisam de o fazer, claro, mas há sempre as palavras que vos encorajam a fazê-lo. E se cagássemos nas definições e nos assumíssemos como “pessoas sexualmente excitadas”? Sejamos realistas: ainda não chegámos a esse ponto. Tendo em conta que, em alguns países do mundo, ser gay ainda é punido com uma sentença de morte (beijinhos aos meus amigos da Arábia Saudita!) e que a América continua a ser a América no que ao casamento gay diz respeito, é muito importante que a malta seja aberta, mas imaginem como tudo seria melhor e mais fácil se todos nós concordássemos que toda a gente pode fazer a sua própria cena sem que ninguém exigisse palavras, escalas, espectros ou (por amor da santa!) bandeiras para nos definir ou definir os outros.