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Estaria a Tailândia a Caminho de um Golpe de Estado?

As manifestações em Banguecoque são uma resposta à tentativa do Partido Pheu Thai, de Shinawatra, de apressar a aprovação de uma lei de anistia no parlamento que permitiria que o irmão da primeira-ministra fosse eleito.

Ontem, numa última tentativa de tirar a primeira-ministra Yingluck Shinawatra do poder, os manifestantes antigoverno tailandeses estão pedindo o fechamento do centro comercial de Banguecoque.

Grandes protestos, formados principalmente por membros da classe média, têm acontecido em Banguecoque desde novembro do ano passado. As manifestações são uma resposta à tentativa do Partido Pheu Thai, de Shinawatra, de apressar a aprovação de uma lei de anistia no parlamento, lei que permitiria que o irmão da primeira-ministra – o controverso parlamentar Thaksin Shinawatra – retornasse do exílio.

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Thaksin é visto por muitos como um líder corrupto, sentenciado a dois anos de prisão por corrupção quando era primeiro-ministro, e os manifestantes não querem que isso aconteça. O plano deles é derrubar o partido no poder e o substituir por um conselho de pessoas não eleitas. O plano mais recente para aumentar a pressão é mudar o acampamento do protesto de seu lugar atual, num quarteirão histórico de Banguecoque, para o coração da capital, gerando preocupações que vão de grandes engarrafamentos ao medo da violência e intervenção militar.

De acordo com o líder dos manifestantes e ex-vice-primeiro-ministro Suthep Thaugsbuan: “Vamos desmantelar nosso palco, quebrar nossos potes de arroz, mudar nossas cozinhas e abrir um novo campo de batalha para tomar a capital”. Enquanto os manifestantes se preparam para a mudança, o Exército Real Tailandês – considerado, em geral, simpatizante do movimento antigoverno – tem trazido tropas e tanques para a cidade. Os generais dizem que isso é apenas uma preparação para o Dias das Forças Armadas, que acontece no fim do mês. No entanto, muitos estão céticos e os boatos em Banguecoque atingiram um frenesi sobre o que o influxo de tropas realmente significa.

Como se os tanques e o fechamento iminente não bastassem, o astrólogo do movimento apontou o dia 14 como um dia auspicioso para o golpe militar, o que convenceu muita gente de que isso é inevitável. Mas muita da conversa sobre o golpe e a violência em potencial vem do governo e seus simpatizantes, ansiosos para colocar um pouco de medo no coração do país sobre o que eles acham que os manifestantes estão planejando. Mas um pouco de medo talvez não seja inteiramente injustificado.

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Ataques noturnos contra o acampamento atual do protesto, e o medo de que isso continue quando eles se mudarem para o centro da cidade, estão deixando muitos manifestantes nervosos. No sábado, sete deles foram feridos quando homens em motocicletas abriram fogo contra o acampamento com rifles M16. No dia anterior, confrontos aconteceram numa cidade ao norte de Banguecoque, onde manifestantes anti e pró-governo se enfrentaram deixando vários feridos.

Em quase todos os casos em que simpatizantes dos dois lados se enfrentaram, a violência – geralmente envolvendo armas – estourou praticamente no mesmo instante. Esses surtos de violência disseminaram o medo de que a mudança para o centro de Banguecoque seja uma provocação, pensada para aumentar a violência e assim abrir caminho para a intervenção militar – uma acusação que os manifestantes negam.

Numa entrevista no começo da semana, Prayuth Chan-ocha, o general-chefe do exército, disse que “os militares não abrem nem fecham a porta para um golpe. Qualquer coisa pode acontecer, dependendo da situação”. Outros porta-vozes do exército tentaram depois acalmar os receios sobre um golpe, mas, considerando a história da Tailândia (18 golpes nos últimos 80 anos), muitos deles permanecem.

A realidade é que um golpe é inteiramente possível, se não provável. E ele pode acontecer depois do caos potencial da próxima semana, ou na sequência de um resultado inconclusivo nas próximas eleições, marcadas para 2 de fevereiro. As eleições estão sendo boicotadas pela oposição e (se elas realmente vierem a acontecer), é pouco provável que resultem no número de parlamentares exigido para o funcionamento do parlamento. Nesse cenário, o exército pode ver uma justificativa para tomar o poder no país.

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No entanto, talvez não precisemos esperar tanto. Semana passada, a Comissão Nacional Anticorrupção encontrou evidências para acusar 308 legisladores de apoiar uma lei que visava mudar alguns aspectos do trabalho do governo. De acordo com pelo menos uma interpretação da constituição, todos esses membros estarão agora –  ou serão – suspensos, deixando um vácuo que o exército pode se sentir na obrigação de preencher.

E os rumores não param no golpe. Alguns falam em guerra civil, ou mesmo num país dividido: o norte, comandado de Chiang Mai (onde Yingluck vive quando não está em Banguecoque), contra o sul, com Banguecoque como base da oposição e dos protestos.

Isso poderia acontecer. A situação pode sair de controle e pode haver derramamento de sangue. Mas é pouco provável. Isso não é a raiz da revolução, em que as massas insurgem contra a elite governante com sede de poder. Essas pessoas são membros estabelecidos de classe média e não têm nada a ganhar com uma nação em frangalhos.

De acordo com observadores experientes da paisagem política da Tailândia, a questão tem menos a ver com remover o governo presente. Eles sugerem que isso está mais relacionado com o que vai acontecer quando o rei – seriamente enfermo hoje – morrer, mas devido à lei severa de lesa-majestade da Tailândia, não se pode discutir muito a questão.

Internacionalmente, a Tailândia é muito integrada à comunidade global para cair num conflito sangrento sem que ninguém interceda. Não é um estado pária, nem um país blindado da globalização ou dos ventos da opinião internacional. Hoje, mais cedo, pela primeira vez, Ban Ki-moon, o secretário-geral das Nações Unidas, intermediou uma discussão entre Yingluck e o líder do partido de oposição.

No entanto, no final das contas, ninguém sabe o que vai acontecer. A cidade tem se preparado para um fechamento, com escolas dispensando os alunos, rotas do transporte público sendo reforçadas e outras medidas para ajudar a manter alguma normalidade. A embaixada dos Estados Unidos na Tailândia atualizou recentemente seu guia de viagem, sugerindo que os cidadãos que vivem em Banguecoque estoquem comida e suprimentos para as próximas duas semanas. No entanto, a maioria das pessoas está esperando para ver o que vai acontecer, com poucas precauções sendo tomadas nos negócios locais e nenhuma notícia de corrida às lojas.

O fechamento pode ser um grande inconveniente, e nada mais, ou pode ser o começo de mais um capítulo de violência na Tailândia. No mínimo, a próxima semana fornecerá um pouco mais de clareza sobre para que lado a Tailândia vai na atual turbulência política.

Veja mais do trabalho do George aqui.