Amílcar Rodrigues já teve vontade de as arrancar todas, mas, ano após ano, Verão após Verão, limita-se a acumular mais um pedaço de pano à volta do pulso. Falamos, claro, das pulseiras dos festivais. Amílcar colecciona-as, dando primazia ao seu festival preferido, o Vodafone Paredes de Coura. Isto é uma coisa séria. “Consta que há pessoal que as corta e que, na altura do festival, volta a cosê-las no pulso para dizer que tem as pulseiras. Já ouvi a história e conheço alguém que faz isso. É batota. São hereges”, acusa Amílcar, rapaz de 27 anos de Ponte de Lima.É aquilo a que se pode chamar um veterano de Paredes de Coura. “Vou desde 2005, há oito anos. Infelizmente, já não tenho a primeira pulseira”, conta. “Guardo um pulso para Paredes de Coura — o direito. Não há mistura." Isto porque (o outro pulso fica reservado para os outros festivais, sendo a manutenção das respectivas pulseiras avaliadas caso a caso. “Guardei a primeira. O primeiro foi o de 2005, que teve a epifania Arcade Fire. Mas teve um belo cartaz para além de Arcade Fire. No ano seguinte ainda a tinha e coloquei a nova. Foi o ano de Morrissey. Já várias vezes tentei arrancar isto tudo, mas não me fazem confusão nenhuma”, diz.
Nessa noite de chuva de 2006 em que viu o ex-Smiths, Amílcar experimentou da pior maneira as agruras meteorológicas que fazem das suas recorrentemente durante o festival: “Eu estava de t-shirt. As noites em Coura são impróprias para t-shirt. Esqueci-me de levar camisola. O frio é terrível em Coura. Mas foi um grande concerto, apesar da forma um bocado atribulada como terminou”, conta. Frio por fora, quente por dentro.
“[Paredes de Coura] Foi o meu primeiro festival a sério. Curto bué o espaço, gosto da organização, é só pessoas sérias, a tal questão do ambiente de que se fala…”, explica Amílcar, que reconhece ter uma vantagem: “Moro a 30 quilómetros.” Este ano, cumprirá a tradição e rumará a Paredes de Coura, até porque nunca viu, os Belle and Sebastian e os Calexico. Será mais uma pulseira no braço de Amílcar. Um dia vai cortá-las todas, promete aos amigos que lhe dizem que está a “criar micróbios e bactérias”. O momento será histórico: “Vou gravar um vídeo.”
DOZE ANOS DE COURA
José Sampaio tem menos pulseiras (três), mas mais experiência. Este ano, será a 12.ª edição de Paredes de Coura, no currículo deste barcelense de 26 anos. Resume assim a obsessão: “É pelo sítio, é pelo ambiente, é pelo convívio e é pela organização.” O sítio ganha por ser “muito verde”, “muito calmo”. Não vai ao rio (“a água é fria”), mas gosta das margens. “O ambiente é mais sociável, há muito mais convívio [do que noutros festivais]. As pessoas trocam bebidas. É mais pequeno e é tudo muito mais alternativo." No Vodafone Paredes de Coura, José Sampaio trata João Carvalho, da organizadora Ritmos, por “tu”. Neste festival, vê bandas que não vê noutros sítios. É mais normal encontrá-lo no palco secundário do que no principal. “Por norma, quem vai ao palco principal, podes ver para o ano num sítio qualquer." Foi no palco secundário que viu os Crystal Castles, uma das suas perdições, a dar um incrível “concerto flash” de 12 minutos.
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José Sampaio tem menos pulseiras (três), mas mais experiência. Este ano, será a 12.ª edição de Paredes de Coura, no currículo deste barcelense de 26 anos. Resume assim a obsessão: “É pelo sítio, é pelo ambiente, é pelo convívio e é pela organização.” O sítio ganha por ser “muito verde”, “muito calmo”. Não vai ao rio (“a água é fria”), mas gosta das margens. “O ambiente é mais sociável, há muito mais convívio [do que noutros festivais]. As pessoas trocam bebidas. É mais pequeno e é tudo muito mais alternativo." No Vodafone Paredes de Coura, José Sampaio trata João Carvalho, da organizadora Ritmos, por “tu”. Neste festival, vê bandas que não vê noutros sítios. É mais normal encontrá-lo no palco secundário do que no principal. “Por norma, quem vai ao palco principal, podes ver para o ano num sítio qualquer." Foi no palco secundário que viu os Crystal Castles, uma das suas perdições, a dar um incrível “concerto flash” de 12 minutos.