O complexo que envolve o estádio do Pacaembu, na cidade de São Paulo, foi o palco de dezenas de batalhas que terminaram numa pancadaria generalizada. Ao final, muitas pessoas ficaram “mortas” no chão do ginásio. A “carnificina” foi acompanhada e aplaudida, neste domingo (15), por cerca de duas mil pessoas, que pagaram para ver 50 guerreiros de armaduras duelando com espadas, lanças, machados, massas e escudos.
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O dia amanheceu nublado e frio, um clima perfeito para a primeira edição da Copa São Paulo de Combates Medievais organizada pelo HMB-Brasil (Historical Medieval Battle), já que as vestes são pesadas. Durante toda a tarde, e parte da noite, atletas amadores de todo o país digladiaram com o intuito de conquistar pontos para o ranking brasileiro – que ainda engatinha em comparação a outros países. Além dos atletas, grande parte do público também estava vestido a caráter, contribuindo para o contraste de clima medieval e seu moderno entorno.
A VICE chegou ao local às 13h, pouco antes do início do torneio, e conversou com algumas pessoas que contribuem para a existência da atividade que, apesar de não parecer, é um esporte – que exige, além do treino físico, muita pesquisa histórica.
Pontuando para o ranking
Um atleta só pode se inscrever em duas modalidades por torneio. Para cada inscrição efetuada, ele ganha cinco pontos. Se por ventura o novato perder seus dois embates, são descontados dele 2,5 pontos por derrota, deixando o aprendiz de cavaleiro com cinco pontos, por exemplo. Porém, se começar vencendo, ganha cinco pontos por batalha em que for o melhor. “Para chegar aos 50 pontos, considerando que o participante vence e perde, são necessários muitos duelos”, disse Monalisa.
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Esta contagem é considerada nos duelos realizados por dois atletas, no mano a mano, cada qual usando uma arma. Os pontos são contados quando golpes acertam em cheio os combatentes na cabeça, tórax e na vanguarda de braços e pernas.
Outro tipo de disputa é o “bohurt”, feito a partir de, no mínimo, três guerreiros de cada lado, podendo chegar até 21 representantes por equipe, ao mesmo tempo. A ideia do bohurt é derrubar o adversário do outro time. Estando no chão, o atleta “morto” não pode interferir na batalha que continua ao seu redor. Mas para quem está em pé, vale soco, chute, voadora com os dois pés no peito e tudo o que a imaginação pode proporcionar para este momento.
Caso sua arma caia no chão, precisa pegar uma reserva com sua equipe de apoio, nas laterais do “campo de batalha”. Estando sem arma, o participante fica impedido de bater nos oponentes, mas pode ser alvo de quem está armado – se tornando um alvo muito fácil. “É a modalidade que o público mais gosta, pois, apesar de não machucar, é a mais violenta”, afirmou Monalisa.
Para que as pontuações sejam aceitas oficialmente, todas as batalhas são filmadas e depois encaminhadas para “capitães”, em Brasília (DF), e para um setor de historicidade, que avalia se a armadura usada pelo atleta, de fato, é histórica (feita com inspiração em modelos existentes entre os séculos 13 e 17). Após isso, a avaliação feita no Brasil é enviada para a HMB internacional. A organizadora da Copa acrescentou que, atualmente, 30 atletas contam com armaduras históricas e treinam semanalmente em todo o país, sendo todos reconhecidos internacionalmente.
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A escolha das armaduras
O consultor revelou ainda que as regras de historicidade no Brasil são mais rígidas do que na gringa, pois a ideia, segundo Pinho, é que fiquemos um passo à frente nesta questão. “Este é um esporte em que o seu equipamento importa muito”, cravou.A grana disponível para investir em uma armadura é que vai determinar o tempo em que ela ficará pronta. “Se você conta com o dinheiro para pagar à vista, consegue sua armadura entre um e três meses. O que, normalmente, não é o caso. Geralmente as pessoas demoram de seis meses a um ano para montar uma armadura completa”, explicou Pinho, acrescentando que uma boa armadura custa a partir de R$ 5 mil. A que ele usa nos torneios, inspirada no final do século 15, saiu por R$ 9 mil. As referências usadas para a feitura de uma armadura são, geralmente, pinturas de época.
Tempo e custos de uma armadura
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A resiliência de Montanha
Após 20 minutos, Montanha ficou paramentado e pronto para o combate. Ele duelou usando um machado e venceu Carlos Cuevas, indo para a final contra “Virtuoso”, de quem perdeu. Montanha saiu ferido da arena, sendo levado para uma viatura do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A reportagem o acompanhou e verificou que seu punho esquerdo foi enfaixado. “Isso aqui não é nada”, garantiu o atleta. Porém, parceiros de batalha tentaram convencer o guerreiro a não mais participar das batalhas do dia, com medo de que ele ficasse inutilizado para o mundial italiano.
Única mina no rolê
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Quando começou a treinar, a mãe dela não entendeu muito bem o que a filha fazia. “Falei que luto usando armadura e ficou por isso (risos).” A armadura de Mirian remete à Itália do século 15 e foi feita em três meses. Todos os equipamentos feitos na UFSC pertencem ao grupo de estudos. Isso ajuda para que tenham um “acervo” de armaduras, que podem ser usadas pelos novatos – enriquecendo a experiência deles no mundo medieval desde o início.
Quando ela precisa lutar, vai para a Argentina, pois não há garotas brasileiras para duelar no bohurt. “Eu queria muito lutar no Brasil”, afirmou com nítida decepção. “Que venham as garotas para lutar no Brasil”, desafiou. Enquanto nenhuma equipe feminina é formada nas bandas daqui a atleta integrou a seleção argentina no mundial da Espanha, no ano passado. “Mas eu usei um cachecol escrito Brasil para saberem que no meio das argentinas tinha uma brasileira”.Já que estava sem rivais para duelar no domingo, Mirian ajudou sua equipe como escudeira – auxiliando na vestimenta de armaduras e também no apoio aos guerreiros durante os combates, travados até a noite no Pacaembu, com choro e lágrimas, mas de alegria.Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.