Manifestação nazista nos EUA encontra segurança pesada
Matthew Heimbach, líder do Partido Tradicionalista dos Trabalhadores, falando no protesto White Lives Matter em Shelbyville. Foto: Tess Owen, VICE News.

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Manifestação nazista nos EUA encontra segurança pesada

Cerca de 150 neonazistas, equipados com escudos e capacetes, marcharam pelas ruas de Shelbyville, Tenessee.
MS
Traduzido por Marina Schnoor

Matéria originalmente publicada na VICE News .

Cerca de 150 neonazistas, equipados com escudos e capacetes, marcharam pelas ruas de Shelbyville, no estado norte-americano do Tenessee, numa manhã particularmente fria do último sábado (28). O protesto "White Lives Matter" era para ser duplo: o plano era começar em Shelbyville, parar para o almoço, e depois ir para Murfreesboro, a 45 minutos de distância, para outro protesto à tarde.

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No final, depois que os neonazis fizeram um piquenique na hora do almoço, eles resolveram encerrar o dia por ali mesmo.

A polícia de Shelbyville, que tem uma população de cerca de 20 mil pessoas e uma grande comunidade somali, não deu chance ao azar, principalmente depois do que aconteceu em Charlottesville, Virgínia, em agosto. Eles sabiam que a multidão se reunindo ali era o contingente mais violento e hardcore da extrema-direita.

E assim, na manhã de sábado, o rosto de uma cidade aparentemente normal do Tennessee foi transformado. As autoridades montaram um grande labirinto de barreiras de metal que canalizou os manifestantes e centenas de contramanifestante para lados separados de um bulevar.

Eles também foram levados para estacionamentos diferentes. No lado neonazi, os grupos com mais representantes eram o Partido Tradicionalista dos Trabalhadores, os nacional-socialistas, a Vanguarda Americana e a Liga do Sul.

Os neonazis apareceram no protesto White Lives Matter com escudos e capacetes. Eles foram proibidos de trazer armas e mochilas para a manifestação. (Tess Owen, VICE News.)

Entre eles estava Michael Tubbs da Liga do Sul, um militar que já cumpriu pena por estocar explosivos e armas do exército, e planejar explodir negócios de judeus e minorias.

Tem sido difícil prever quantos neonazis realmente vão aparecer. As estimativas variavam de "dezenas" a "milhares". No final, foram cerca de 150 pessoas. Enquanto eles chegavam, um homem tocava uma gaita de fole.

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Matthew Heimbach, chefe do Partido Tradicionalista dos Trabalhadores, puxou o coro: "Grandes sorrisos, senhores", Heimbach disse no estacionamento. "Outro dia no paraíso." Eles marcharam cerca de um quarteirão até um posto de controle pesadamente policiado, gritando "Fronteiras fechadas, nação branca, agora começamos a deportação". Alguns carregavam escudos, outros cartazes dizendo "Parem o genocídio cultural".

Um participante da marcha White Lives Matter faz a saudação nazista. (Tess Owen, VICE News.)

Lá eles tiveram que formar uma fila, com os policiais revistando todo mundo antes de os manifestantes entrarem na arena. O processo levou menos de uma hora, com os neonazis tremendo de frio e reclamando que a revista foi pior que a dos aeroportos.

Um casal, Brigid Harris e Ronnie White, saíram de casa de pijama para ver o que estava acontecendo, observando a cena de longe.

Harris e White, os dois negros, sempre moraram em Shelbyville e veem as hordas de nazis vestidos de preto com medo. "Eu só queria ver como eles eram", disse Harris. "Nunca vi ninguém assim pessoalmente."

"É assustador", ela disse, balançando a cabeça.

Do outro lado, na contramanifestação, a atmosfera era circense. Os contramanifestante estavam usando roupas coloridas, e um aparelho de som tocava, entre outras coisas, o discurso "Eu tenho um sonho" de Martin Luther King, "Strange Fruit" de Billie Holiday, "A Change is Gonna Come" de Sam Cooke e Beyoncé, abafando os alto-falantes dos neonazistas e nacionalistas brancos.

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Duas das centenas de contramanifestante que apareceram em Shelbyville para protestar contra os neonazis reunidos na cidade. (Tess Owen, VICE News.)

Eles também provocavam os neonazis com gritos de "Vamos substituir vocês", se apropriando do slogan usado em Charlottesville "Vocês não vamos nos substituir", e "Você é bonito, você é sexy, tire essa roupa de nazista". Enquanto isso, os neonazis ocasionalmente faziam a saudação nazista.

Jed Begwell, que vei do Alabama para "ficar de olho nesses caras", estava do lado neonazista usando um boné Make America Great Again. Mas, segundo ele, não era afiliado a nenhum grupo. Ele acha que a prioridade número um do presidente Trump deveria ser "achar quem matou JFK".

"Gosto de saber exatamente quem atirou nos nossos presidentes", disse Bagwell. "Isso é muito mais importante para mim que essas histórias de conluio com os russos."

Os neonazis fizeram uma pausa para um piquenique por volta das 14 horas.

Brad Griffin, que usa o pseudônimo "Hunter Wallace", um blogueiro nacionalista branco prolífico e principal organizador do protesto, postou um vídeo do piquenique. "Estou ao vivo do piquenique White Lives Matter", disse Griffin. "Muita gente branca aqui hoje."

Eles deveriam ir para Murfreesboro à tarde, mas depois do almoço desanimaram.

"Murfreesboro cancelado", tuitou Griffin.

"Tínhamos informação de que Murfreesboro era uma armadilha de processo. Não valia a pena se arriscar", ele continuou no Twitter.

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"Levamos uma hora para passar pela segurança em Shelbyville. Isso atrasou o almoço. Não tínhamos nada a ganhar em Murfreesboro."

Como esse protesto foi organizado por grupos de direita mais hardcore, o contingente de terno da "alt-right" era menos visível. Aqui um deles com um broche do Pepe, um meme da internet, no paletó. (Tess Owen, VICE News.)

Centenas de contramanifestantes estavam esperando os neonazis em Murfreesboro, lojas foram fechadas com placas de madeira no dia anterior e pintadas com mensagens de paz. Quando a notícia se espalhou de que os neonazis tinham "cancelado" o protesto, a praça explodiu em comemoração; outros começaram a rir.

Os organizadores do White Lives Matter estão celebrando o evento como um grande sucesso, apesar de ter custado milhares de dólares a Murfreesboro por nada.

"Eu prefiro ficar por aqui e conhecer nosso pessoal do que me envolver num enfrentamento com a antifa", tuitou Griffin de novo. "Não precisamos de mais problemas."

O que se seguiu foi uma perseguição de gato e rato entre neonazis, autoridades, antifa e a mídia.

Surgiu a notícia de que os neonazis estavam no Henry Horton State Park em Chapel Hill — a 30 minutos de Murfreeboro — que é o local de nascimento de Nathan Forrest Bedford, o fundador da KKK. Mas quando alguns repórteres e a polícia começaram a chegar, os 50 nazis ali — que alguns momentos antes estavam fazendo a saudação nazista e "formando uma suástica humana" — rapidamente pegaram suas coisas e foram embora.

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Depois surgiu a notícia de que eles planejavam fazer uma marcha com tochas na mesma igreja de Antioch onde um atirador abriu fogo contra os membros em setembro, matando uma pessoa e deixando sete feridas. O caso era um dos motivos para o protesto, com os participantes dizendo que a mídia ignorou a tragédia porque o suposto atirador era negro e as vítimas eram brancas.

A polícia e cães farejadores já estavam na cena quando os repórteres começaram a chegar. "É difícil saber quem é seguro", disse um oficial. Mas por volta das 18h30, a hora em que a marcha estava agendada, chegou a notícia de que os neonazis tinham se assustado de novo.

Griffin tinha repetido a importância da "ótica" para esse protesto, que de muitas maneiras era um evento para se distanciar de Charlottesville, quando um de seus membros supostamente jogou seu carro contra uma multidão de contramanifestantes, matando uma pessoa e ferindo dezenas.

Mas suas ações traíam suas intenções.

Mais tarde naquele dia, um grupo de neonazis — incluindo Heimbach, um dos grandes nomes do "movimento" — foi gravado numa discussão com um casal birracial em frente a um pub em Nashville.

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