Sabe Aquela Propaganda do Chile que Fez Você Chorar? Então, É Mentira

O Banco Chile lançou este mês a peça publicitária acima. Nela, os mineiros chilenos que passaram dois meses soterrados depois de um desabamento sob o Deserto do Atacama em agosto de 2010 fazem o espectador chorar.

“Neste local, ficamos presos por 70 dias. A terra tinha nos engolido. Foi aí que tivemos de provar de que éramos feitos. Sabíamos que, do lado de fora, havia milhões de chilenos que acreditavam em nós. E esta terra foi testemunha de tudo isso”, diz um dos mineiros, no exato local de onde foram resgatados, no acampamento batizado “Esperança”. Ele continua: “Por isso, levaremos esta terra ao Brasil, ao campo onde treinará a nossa seleção, para enchê-la de esperança e coragem e, assim, mostrar ao mundo que, para um chileno, nada é impossível”. O mineiro grita e mostra potezinhos de metal com a terra sendo colocada dentro, enquanto sobe, ao fundo, uma música orquestral e apoteótica.

A imprensa mundial republicou o vídeo e tratou a história como uma das mais emocionantes da Copa. Elogios rasgados à publicidade chilena se sucederam. E muitos brasileiros nas redes sociais disseram que passariam a torcer pelo Chile depois da disfunção narcotizante provocada pela exposição ao vídeo emotivo.

O problema é que, pelas informações da própria seleção chilena de futebol, os mineiros heróis não vieram ao Brasil. Nem virão. E a terra dos potezinhos ficou por lá também. “Como você bem diz, isso é uma propaganda de um banco. Tenho entendido que é tudo ficção”, me disse hoje, por email, José Antonio Acosta, assessor de Comunicação da Presidência da ANFP (Associação Nacional de Futebol Profissional), a CBF do Chile.

“Espanha é difícil. Holanda é difícil. Caímos no grupo da morte. Não nos importa a morte porque nós já vencemos a morte antes”, conclui o mineiro do vídeo. Aí, você chora. Ou não.

A julgar pela história recente, os mineiros tiveram sorte de saírem vivos do buraco, mas não deram sorte para mais ninguém. O então presidente Sebastián Piñera tentou surfar na onda do resgate bem-sucedido, mas terminou como o presidente mais mal avaliado da história chilena (Pinochet não conta) e não conseguiu fazer o sucessor, sendo derrotado pela atual presidente Michelle Bachelet.

Como o nível da seleção chilena tampouco ajuda – a “Roja” começou perdendo o último amistoso em casa para o fraquíssimo Egito, antes de conseguir virar o jogo – é capaz que os mineiros continuem sendo os maiores pés-frios da paróquia.

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