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Música

Canções que salvam vidas: Cave Story

A banda das Caldas da Rainha está prestes a lançar um dos discos mais pegadiços de 2016, um ano em que muitos dos discos mais influentes na música que ouvimos hoje em dia, completam um quarto de século.
Foto por Manuel Simões

Cave Story. Foto por Manuel Simões

Está a chover que se desunha. Está um calor infernal. É sexta-feira e estás em pulgas para a rambóia logo à noite e para fritares a molécula. Por outro lado, é sexta-feira, estás em pulgas para a rambóia logo à noite e para fritares a molécula, mas não tens guito. Não te apetece ir trabalhar. Não te apetece estudar. Vais é dar uma volta pela cidade. Espera, está a chover. Pronto, vais ver o mar, que está um calor diabólico. Alto, que isto está cheio de turistas e não dá para ir a lado nenhum. Nunca mais chega a Primavera! Primavera é que não, que é só alergias.

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Um gajo nunca está contente. Se não é do cu é das calças. O que vale é que, como toda a gente sabe, há canções que salvam vidas (os Smiths cravaram-no a letras de ouro no cancioneiro pop para toda a eternidade). Semanalmente, e para que a tua vida ganhe um novo sentido e encontres a salvação possível, deixamos por aqui um desses bocadinhos de lírica e melodia (ou ruído e grunhidos selvagens, conforme a disposição) que têm a capacidade de, em pouco mais de três minutos, te salvarem. Se não a vida, pelo menos o dia.

Faz hoje 25 anos que Nevermind começou a sua caminhada gloriosa de conquista planetária. O segundo disco dos Nirvana chegou de mansinho, mas não demorou muito a mudar a história da música popular, no sentido em que, de repente, aquela linha bem definida a marcador vermelho de feltro, entre o alternativo (para simplificar: o que hoje é indie, em 1991era alternativo) e o mainstream, esfumou-se. Desapareceu.

Voltaria, claro, mas nunca da mesma forma. Nunca tão restrita. E essa abertura aconteceu tanto por parte do mainstream, que engoliu "Smells Like Teen Spirit" com a mesma sofreguidão com que, 10 anos antes, tinha devorado "Like A Virgin", como também aconteceu na cabeça dos ditos "alternativos", que começaram a olhar com outros ouvidos para algum metal, para o rock dos anos 70, para o punk mais obscuro, ou para a pop desviante de uns BMX Bandits e de mais uma porrada de escoceses, galeses e afins, a que ninguém ligava nenhuma antes de Cobain começar a revelar os seus (anti) heróis.

Mas o legado de Nevermind, um quarto de século depois, não é, apesar de tudo tão musical, quanto é estilístico, ou até social. Os Nirvana são capazes de ter mais descendência em cursos de design de moda, que em bandas novas e há, definitivamente, muitos outros álbuns lançados em 1991 que são, hoje, incomensuravelmente mais influentes na música popular do que o disco de Cobain e seus pares.

Screamadelica, dos Primal Scream, foi lançado exactamente no mesmo dia, Loveless, dos My Bloody Valentine, faz anos a 4 de Novembro, Trompe Le Monde, dos Pixies, saltou cá para fora a 4 de Outubro, Blue Lines, dos Massive Attack festejou bodas em Abril, Leisure, dos Blur, em Agosto, Green Mind, dos Dinosaur Jr, em Fevereiro, Bandwagonesque, dos Teenage Fanclub, também está de parabéns daqui por menos de dois meses, Gish, dos Smashing Pumpkins…enfim, a lista continua, é de luxo e podia incluir também um que foi gravado nesse ano, mas acabaria por só ver a luz do dia em Abril de 1992… Slanted & Enchanted.

A estreia dos Pavement é, esse sim, um daqueles discos que continuam a render bandas. Como os Velvet Underground duas décadas antes, não terão sido muitos os que ligaram aos Pavement na altura, mas os que ligaram formaram uma banda. E continuam a formar. Salva vidas perpétuo, Slanted & Enchanted, corre livre por todos os poros de West, dos Cave Story (sai a 28 de Outubro, pela Lovers & Lollypops). Gente das Caldas da Rainha - quem sabe minimamente a história do rock sónico em Portugal, sabe bem que é importante referir isto -, gente com dedo para a canção e para o domínio do ruído, gente que tem bem a noção de que uma cantiga bem esgalhada é o primeiro passo para a salvação da humanidade.

É um cliché, mas os Cave Story já não são uma promessa. São a certeza de que, se calhar, daqui a 25 anos, alguém os há-de estar a referir numa lista daqueles discos do ano em que, sei lá, os Gift lançaram um álbum muito fixe com o Brian Eno, ou os You Can't Win Charlie Brown foram aclamados pela crítica, e a fazer o mesmo que fizemos aqui em cima… no entanto, adivinhem quem é que vai influenciar o puto de 18 anos que vai gravar o melhor disco do ano em Portugal (ou noutro sítio qualquer, vá) em 2041?