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A Tailândia Está à Beira de uma Guerra Civil?

Os manifestantes antigoverno em Banguecoque — liderados pelo ex-parlamentar Suthep Thaugsuban — querem substituir o governo do país eleito de forma democrática e indicar um “conselho popular” para aprovar reformas não especificadas.

Manifestação antigoverno nas ruas de Banguecoque.

Depois de semanas de relativa calma, protestos lotaram as ruas de Banguecoque mais uma vez no final de semana, com dezenas de milhares de pessoas em marcha pela cidade pedindo a derrubada do governo. Enquanto isso, no norte da Tailândia, os “camisas vermelhas”, manifestantes pró-governo, estão começando a bater nos tambores da guerra (bem literalmente, em alguns casos) e falam em marchar para a capital e defender o regime. O impasse atual é resultado de anos de turbulência política no país, uma batalha ostensiva entre norte e sul, ricos e pobres. Na verdade, trata-se de uma luta muito mais complexa, até existencial, pelo controle do reino.

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Apesar de negociações e rumores de acordos nos bastidores, é difícil ver qualquer solução para a crise no momento. Os manifestantes antigoverno em Banguecoque — liderados pelo ex-parlamentar Suthep Thaugsuban — querem substituir o governo eleito de forma democrática e indicar um “conselho popular” para aprovar reformas não especificadas. Por outro lado, o governo e seus simpatizantes argumentam que os manifestantes estão negando os direitos democráticos da maioria e prometeram, repetidas vezes, não ceder às exigências do que muitos no país chamam carinhosamente (e outros não tão carinhosamente) de “a máfia”.

Acima de tudo (na verdade, bem no meio de toda a situação) está o Exército Real Tailandês — sem dúvida, a instituição mais poderosa do país no momento. Numa entrevista recente, o general Prayuth, chefe do exército, ameaçou uma guerra civil se a Tailândia continuar nesse caminho. “Se houver mais vidas perdidas, o país vai certamente entrar em colapso”, disse Prayuth, “e não haverá vencedores ou perdedores”.

Até agora, o movimento antigoverno — apoiado pela comunidade empresarial da capital e figuras estabelecidas da elite tailandesa — não conseguiu alcançar muito de sua proposta inicial. A primeira-ministra Yigluck Shinawatra continua no poder e, apesar de seu irmão e ex-parlamentar Thaksin continuar no exílio autoimposto, há pouco sinais de que ele tenha perdido sua influência.

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De fato, até o protesto do fim de semana passado, o momento nas ruas do movimento antigoverno parecia ter passado depois do chamado “Fechamento de Banguecoque”, um resultado, em parte, da diminuição de manifestantes. No entanto, os desenvolvimentos nos tribunais da Tailândia prometem agora uma nova esperança para os opositores do governo. Semana passada, o Tribunal Constitucional decretou inválida a eleição geral de fevereiro, já que a votação não foi concluída num só dia — principalmente por causa do bloqueio de zonas de votação por gangues antigoverno. Uma nova eleição deve acontecer, mas um cenário similar é altamente provável.

Mais preocupações para o governo e seus simpatizantes vêm do Comitê Nacional Anticorrupção (CNAC) esta semana. A primeira-ministra deve comparecer para responder por acusações de negligência a irregularidades num controverso “esquema de arroz” do governo, além de acusações de corrupção e má gestão.

Yingluck questionou recentemente a imparcialidade do comitê, mas se for considerada culpada — o que alguns acreditam ser possível — ela será suspensa do cargo e enfrentará um tribunal de impeachment no senado. O partido dela, o Pheau Thai, ficará livre para escolher outro primeiro-ministro, mas isso seria visto como uma grande vitória para o movimento antigoverno. O medo então se voltará para a respostas dos camisas vermelhas.

Recentemente, sob um nova e mais dura liderança, os camisas vermelhas têm realizado vários protestos em todo o país e prometem uma manifestação para o próximo fim de semana, possivelmente em Banguecoque. O novo líder — o ex-parlamentar do Pheau Thai Jatuporn Prompan — disse numa entrevista que suas táticas serão “pacíficas”, mas acrescentou que “a próxima batalha será grande”. Da última vez, os dois lados se enfrentaram em números significativos numa intersecção ao norte de Banguecoque. Isso levou a uma troca de tiros que durou várias horas e envolveu pequenos explosivos e rifles de assalto. Se eles realmente realizarem seu protesto na capital, novos confrontos serão inevitáveis.

Por enquanto, Jatuporn e os camisas vermelhas estão confiantes: “Em 2006, eles usaram um golpe militar. Em 2007 e 2008, usaram organizações independentes como o tribunal constitucional. Agora, estão usando uma revolução popular liderada por Suthep, mas não tiveram sucesso”. No entanto, se Yingluck for declarada culpada esta semana no CNAC, e nenhum compromisso ou acordo for estabelecido, o governo ficará definitivamente enfraquecido e a tensão vai aumentar.

Num vídeo recente bastante revelador e desanimador, camisas vermelhas são vistos espancando um monge budista acusado de apoiar os protestos antigoverno. Eles agarram o monge pelo manto laranja e o socam repetidamente numa reunião não muito longe de Banguecoque. Fotos do ataque, que apareceram na primeira página dos principais jornais do país são uma lembrança vívida da violência para a qual os líderes dos dois lados estão arrastando o país.

As decisões futuras dos julgamentos são inevitáveis, manifestações rivais vão levar a mais discursos de ódio, mas onde isso tudo vai acabar ninguém sabe ao certo. O país resistiu a muitas convulsões antes (e boa parte do problema é que essas confusões nunca foram realmente resolvidas) e ainda pode manter sua reputação de “Tailândia teflon”. Ainda assim, se as atuais tensões não esfriarem, o medo de um rompimento permanente continuará na mente de todos os grupos políticos tailandeses.

@georgehenton