Entremuralhas e entre góticos

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Viagem

Entremuralhas e entre góticos

O meu festival favorito.

Não fosse a distância e o guito que se gasta e o Entremuralhas seria, para mim, o festival perfeito. Começa pelo pelo místico Castelo de Leiria, imponente com vista sobre a cidade com recantos lindíssimos e misteriosos pejados de história e, decerto, histórias, entre as quais aquela onde um dia um grupo de amigos imbuídos de boa vontade e a dose certa de loucura se decidiu juntar e organizar o primeiro e único festival gótico do país.

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Já sem a corte que ali habitou, mas com o público que sai visivelmente satisfeito e ansiando pelo acontecimento do ano seguinte. É graças a esta malta, que personificam a associação FADE IN, temos desde 2010 um evento que tem vindo a crescer, não em número de público (está sempre limitado ao espaço disponível do Castelo, cerca de 700 pessoas), mas em oferta musical principalmente, apostando em bandas que normalmente não ouvimos por aí. Nestes três dias fomos conduzidos numa viagem quase espiritual. A começar pelo sempre belíssimo palco em ruínas da Igreja da Pena, que nos leva logo o fôlego sem que ainda tenhamos sequer ouvido algum acorde. Por este belo palco, no passado fim-de-semana, passou o trovador Andrew King, homem de voz forte e emotiva cujo trabalho lembra as cantigas de amigo de que se falava na escola ou os Canterbury Tales, Nöi Kabát new-wave de electrónica analógica que deu o mote para alguns passos de dança num recinto cada vez mais limitado,os austríacos Allerseelen, trindade de pop-militarista dominada pelo feminino com as belas Christien e Noreia lideradas por Gerhard Halstatt que nos conduziam por um som marcial — industrial por vezes dançável e os muito aguardados She Past Away, projecto único, oriundo de Istambul, que nos canta na sua língua materna sob influências de bandas como Joy Division e Clan of Xymox. Cá fora socializava- se, mostrava-se a vestimenta especial tão sobejamente registada pelos aborrecidos fotógrafos, reviam-se amizades do festival passado e mostravam-se os pimpolhos que já acompanhavam os pais envergando t-shirts dos Ramones ou mesmo do Entremuralhas. Preparavamo-nos para a segunda parte da viagem no Palco Alma. Ao som de bandas como Oniric de toada burlesca e enigmática alimentada pelo doce som do xilofone e pela ambiência cinematográfica, os heróicos Parzival de som épico e poderoso com coros magistrais e hinos sonantes onde o carismático lider Dimitrij Bablevskij nos conduzia até ao infinito, os poéticos Darkwood com o seu neo-folk romântico de elementos clássicos e melodias acústicas simples e os veteranos The Legendary Pink Dots, projecto que remonta aos anos 80, influenciador de muitas bandas da cena gótica e com um currículo invejável de mais de 40 álbuns que lhes granjeou uma extensa legião de fãs.

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No meio disto tudo foi um prazer verificar que bem oleada que é esta máquina. Deu para ver a malta da organização despreocupada por entre a multidão, a conviver e a dançar com o público, partilhando da magia existente, auscultando o que se passava à sua volta, saboreando os belos momentos que todos nós pudemos compartilhar. Obrigada Entremuralhas e até para o ano.