FYI.

This story is over 5 years old.

Outros

O que Aprendemos com a Eleição de 2014

Entre dramas, troca de insultos em debates, muito climão e stress nas redes sociais, a corrida presidencial foi muito elucidativa. Ou não.

​Foto por Helena Wolfenson

Começando pelo fim, eu diria simplesmente que a Eleição 2014 não teve grandes surpresas. Primeiro porque nós reelegemos alguém que já estava no poder, a presidente Dilma Rousseff (PT). Segundo porque a chance de eleger alguém novo repousava sobre duas candidaturas tão ruins quanto a de Dilma – o senador Aécio Neves (PSDB) e da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (PSB).

Publicidade

Além do mais, 2014 teve uma das corridas presidenciais mais virulentas, com debates cheios de insultos e bate-bocas, um clima tenso, candidata chorando e a moçada pegando pesado nas redes, fazendo coro para todas aquelas frases de efeito - as ditas pelos presidenciáveis e as mentiras viralizadas.

O início da corrida presidencial já anunciava esse climão. O acidente do avião que levava a bordo o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), foi um prenúncio bem agourento e triste. Foi depois da tragédia que os leitores da VICE conheceram o incrível trabalho de Carlos André de Andrade de Silva, um verdadeiro artista que trabalha num mercado de Recife e esculpiu a cara de Campos numa melancia como uma homenagem póstuma. Ficou diferente.

Quando a corrida começou pra valer, nós começamos a frequentar as entrevistas coletivas dos candidatos.

Começamos por uma conversa com Aécio, em São Paulo. De cara, o moço disse que estava de "altíssimo astral". Foi estranho que ele não parasse de sorrir, mesmo quando dizia coisas absolutamente normais. Começamos a nos preocupar quando o candidato ameaçou se "desnudar na campanha".

Eleição é uma coisa muito séria e, nem de longe, tínhamos a intenção de fazer piada com tudo isso. Desde o início, nos contentamos em registrar o que os candidatos diziam espontaneamente em suas coletivas. Foi assim quando Marina assumiu sua identidade de Avatar azul das matas seringueiras, se declarando "a pororoca do Brasil". Nós anotamos e transmitimos aos leitores.

Publicidade

De Dilma não esperávamos menos. A presidente não deixou transparecer nem sombra de esforço para representar o papel de gerentona dura e mal humorada numa coletiva realizada num hotel com decoração cafona em São Paulo.

É um pouco triste – e um tanto violento - se dedicar a esse tipo de cobertura jornalística. Internautas mais apaixonados debitam na nossa conta os defeitos de seus candidatos (e às vezes suas próprias falhas de caráter).

Também falamos com um candidato que já havia matado mais de 40 pessoas a tiros. Teve quem inferisse se tratar de um elogio ao gajo. Depois, trouxemos a lista dos dez candidatos financiados pela indústria brasileira de armas e munições. Novamente, alguns interpretaram se tratar das sugestões da VICE para o Congresso.

Ficou óbvio que há um problema generalizado de compreensão de texto. A prova final foi a cobertura do enorme comício que o PT realizou na PUC-SP. A coisa foi tensa. Teve estudantes apanhando por causa de suas opções políticas. E, a julgar por alguns comentários furiosos, até hoje não sabemos se nosso texto foi positivo ou negativo para a campanha vencedora. Não que isso deva ser nossa preocupação.

E talvez essas sejam dúvidas insolúveis. Afinal, a maioria dos eleitores petistas que eu conheço está bem decepcionada com o rumo da vida. Dão a impressão de terem votado em outra coisa, diferente da Kátia Abreu na Agricultura, do Garotinho no Banco do Brasil, das tretas da Petrobrás, sei lá. Sabe quando você dorme com um e acordo com outro? Tem sido assim. Foi assim com os congressistas, onde só 36 entraram por voto nominal direto. O resto veio de carona. Muita gente também não entendeu ​o lance das urnas eletrônicas.

Não só a esquerda se confundiu. ​A direita também foi às ruas, e suas melhores tentativas de emular as ​Jornadas de Junho meteram os pés pelas mãos, em marchas cheias de gente pedindo a deposição da presidente e o golpe de Estado. ​Uma moçada com soco inglês chegou a ameaçar o fotógrafo da VICE, tudo num clima bem feioso. Até tentamos ​explicar o quanto é absurdo pedir o impeachment hoje, mas parece que a marca de 2014 falou mais forte: cada um falando sua própria língua, bem alto e com a mão no ouvido.