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Johan van Laarhoven: Não. Eu tinha certeza de que iríamos para casa. Porque sei que sou inocente, mas também porque não havia nenhuma evidência de que fiz algo errado. Mesmo as testemunhas da promotoria disseram que não sabiam que lei tínhamos desobedecido na Tailândia e o que tínhamos feito de errado na Holanda.Então por que você acha que foi condenado?
Logo no começo, senti que estavam armando algo contra nós. Mas eu não sei por quê. Não fiz nada de errado. Veja minha cadeia de coffee shops: nosso modelo de negócio foi construído de tal maneira que poderia ser aplicado na Holanda e no exterior. A polícia visita nossas lojas quando faz tours com forças policiais ou oficiais do governo. Éramos considerados um exemplo positivo. Ainda estou usando o termo "nós", pois, apesar de ter vendido a empresa, ainda sinto que isso é o trabalho da minha vida.Você foi condenado por lavagem de dinheiro.
Nenhum dinheiro foi lavado. E, mesmo se tudo que a promotoria holandesa acha que fizemos fosse verdade, meu advogado diz que pegaríamos um ano numa prisão de lá, no máximo. Mas a maior parte do que eles estão me acusando aconteceu depois que vendi a empresa. Eu não tinha nada a ver com isso. E como eu poderia estar lavando dinheiro se estava pagando os impostos sobre isso? Se um crime foi cometido no meu caso, consequentemente a autoridade fiscal holandesa é cúmplice. A Suprema Corte holandesa determinou que a renda ganha com a exploração de uma coffee shop é legal, mesmo se houver muita cannabis no estoque. Considerando essa jurisprudência, fica claro que isso definitivamente não é um caso de lavagem de dinheiro.
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Foi aí que percebi que a promotoria holandesa tinha fodido com esse caso. Do nada, 120 policiais e todos os jornalistas da Tailândia apareceram na nossa porta. Os oficiais foram muito simpáticos depois da prisão. Eles até disseram que provavelmente seríamos libertados sob fiança em alguns dias. Mas isso não aconteceu. E lentamente percebi que esse é um caso político para a Tailândia, não uma punição por alguma coisa.Depois da sua condenação na semana passada, você foi transferido para uma outra parte da prisão, onde passou os últimos 15 meses. Você tinha feito amigos na sua cela anterior?
Eu falava com algumas pessoas, sim. Embora a maioria dos detentos sejam assassinos, estupradores e membros de gangues. Alguns têm a cara toda tatuada. Havia alguns estrangeiros na minha cela com quem eu falava muito, principalmente sobre nossos casos. Porém, agora que me mudaram de cela, tenho de começar tudo de novo. Divido uma cela com 40 outros homens. Um é da Inglaterra, mas ele foi preso por vender anfetaminas; não é meu tipo de cara, não gosto de drogas pesadas. O resto dos presos é de tailandeses, muitos prisioneiros políticos.Eu não me importaria em dividir uma cela com pessoas assim, acho. Melhor criminosos do colarinho branco que assassinos, não?
Sim, claro. Também há alguns ex-policiais na cela, embora seja tudo merda política. Muitos deles claramente foram condenados injustamente. Claro, eles poderiam estar envolvidos em casos pequenos de corrupção, mas, se isso fosse crime, todo mundo na Tailândia estaria preso.
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Foi na manhã após o veredito; portanto, foi um choque depois do outro. Eles não me avisaram de nada, só vieram e me levaram. Quando não consegui juntar minhas coisas rápido o suficiente, os guardas jogaram tudo num saco. E me levaram.Você decidiu apelar do veredito. Essa era sua única opção?
Não foi realmente uma escolha, já que esse é o único jeito de conseguir uma absolvição. Entretanto, é um sistema escroto, criado para deixar o governo ganhar. Se aceitar um acordo de culpa, automaticamente você pega 50% da sentença. Isso significa que muitas pessoas se dizem culpadas mesmo não sendo.O mesmo vale para a apelação. O rei perdoa prisioneiros todo ano, mas você só pode ser considerado para um perdão se não for um caso em andamento. Para ter uma chance maior de perdão, você tem de trabalhar no seu ranqueamento, que pode ser "médio", "bom", "muito bom" ou "excelente". Se você ranquear como excelente, o tempo depois do qual você pode solicitar um perdão é a metade. Mas, enquanto minha apelação está sendo considerada, não tenho permissão para trabalhar no meu ranqueamento.Você vai pedir para ser transferido para uma prisão holandesa se a oportunidade surgir?
Não tenho ideia. Acho que não. Não posso deixar minha esposa e filhos para trás.Os últimos dias no tribunal foram os únicos momentos em que você pôde ver sua esposa – quando ficou algemado a ela. Como foram esses momentos?
Intensos. Tentamos falar um com o outro, embora nada que lembrasse uma conversa real. Mas é melhor que nada. Sempre fico ansioso para ver minha esposa, mesmo que por um curto tempo. Na semana passada, foi ridículo: cinco minutos depois da sentença, eles vieram nos separar. Estávamos em choque. Não tenho ideia de quando a poderei ver de novo.
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Sim, e a apelação pode levar de um a três anos. Se levar mesmo três anos, significa que estarei preso por quase quatro anos e meio. E por quê? Sou inocente.Como é sua vida cotidiana na prisão?
Não tenho realmente uma vida. Não sei como descrever isso exatamente. Não há lugar para deitar, está sempre quente; não há lugar para sentar, a comida é horrível. Na cela onde estava antes, eu podia ver um visitante por dia, mas isso foi cortado para uma vez por semana. A única coisa que faço é esperar o dia acabar, e aí há outro dia.Imagino que isso torne a visita ao hospital o ponto alto da sua semana.
Isso é verdade. Aqui, pelo menos, posso conversar com alguém sem ter grades entre nós.Seu filho mais velho pode te visitar. As visitas dele ajudam a levantar seu espírito?
Sim, porém começo a chorar quando penso no que isso provoca nos meus filhos. Meus dois filhos mais novos não sabem onde os pais estão. E o que eu posso dizer para eles? "O papai e a mamãe estão na cadeia"? Se eles perguntarem por que, nem sei como explicar. Sempre achamos que seríamos soltos logo; por isso, não dissemos nada a eles. Só que o tempo passa, e continuamos atrás das grades.Seu irmão, Frans, falou na TV holandesa na semana passada que seria mais humano se eles tivessem te dado a pena de morte.
Se não tivesse mulher e filhos, eu cuidaria disso sozinho. Mas não posso fazer isso com eles. Ainda tenho esperança de que algo ou alguém na Holanda possa nos salvar disso. Foi aí que tudo deu errado – a promotoria holandesa deu informações incompletas ao tribunal tailandês. Espero que algum político holandês tenha a coragem de colocar um fim nisso.Tradução do inglês por Marina Schnoor.Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.