O excitamento é tanto que se nos continuamos a coçar arrancamos a carne viva dos nossos braços: o Milhões de Festa 2014 está mesmo ao virar da esquina, e se nos têm acompanhado nos últimos tempos (claro que têm), já sabem de cor e salteado o cartaz que vos vai acompanhar no fim-de-semana alargado mais feliz deste verão. Embora não vos peçamos que estudem tudo demasiado – afinal de contas, parte do encanto passa por ir para um palco completamente à nora e ser apanhado desprevenido por toda a boa música que vos inunda os ouvido — não podemos negar que o Milhões deste ano acarreta alguns nomes que merecem que se saiba praticamente tudo o que lhes diz respeito. E a miss Chelsea Wolfe merece-o.Da solarenga Califórnia para o mundo, não foram os ares veraneantes da costa oeste que se mostraram como particularmente apelativos no universo de Chelsea Wolfe. Combinando influências tão díspares como a folk americana, o black metal ou os filmes de Werner Herzog na sua estética e sonoridade, estrear-se-ia em discos em 2010 comThe Grime and Glow(emboraMistake in Parting,concebido em 2006 e renegado por Wolfe, nunca tenha sido lançado oficialmente mas encontra-se aí por essa internet fora — podem ouvi-lo mas não lho digam), onde desde logo exibiu o lado obscuro e gótico da folk pronto a nos atormentar como um espírito numa mansão abandonada — mas num bom sentido, claro. Um ano mais tarde,Apokalypsissofisticava as melodias e tornava Chelsea Wolfe cada vez mais difícil de agrupar num determinado género musical específico, ao mesmo tempo que consolidava o seu estatuto junto a uma base cada vez mais alargada de seguidores. Ao mesmo tempo, perante alargadas digressões por todo o mundo desenvolvia uma distinta fobia dos palcos, que em certa medida contribuia para o misticismo e aura envolvente da sua música (embora ultimamente isso já se tenha alterado um pouco — quando a vimos no Porto no ano passado já trajava de branco em contraste com o pesado preto que utilizava para se esconder em palco).fuzz e todos esses efeitos para um disco acústico,Unknown Rooms: A Collection of Acoustic Songs, tão assombroso e imerso na atmosfera depressiva pronta a levantar-nos os pêlos do braço durante os seus escassos 25 minutos. Pouco mais haverá a acrescentar ao que dissémos sobre oPain is Beauty do ano passado senão dizer que, de facto, foi um disco mais-que-óptimo e que entrou de caras nos topes de 2013 de muita gente — e com toda a justiça. O que na altura não sabíamos é queFeral Love viria a surgir num trailer d’A Guerra dos Tronos,reacendendo ainda mais o interesse na diva do folk mais negro e agora também um pouco mais eletrónico. Pensando melhor no assunto, quase conseguimos imaginar a Chelsea no papel de Khaleesi.Espreitando alinhamentos recentes podemos deduzir que existem grandes probabilidades de, no Milhões de Festa, escutarmos principalmente canções destes dois últimos discos — e nem sequer nos podemos queixar disto, já que apresentam registos tão distintos que isso só nos pode aumentar ainda mais a curiosidade. Todos quereremos que o sol brilhe em Barcelos, mas no próximo dia 25 pelas 21h30 só podemos desejar a noite mais soturna para acompanhar com o máximo rigor o que ouvirmos no palco Milhões.
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Em 2012 junta-se à Sargent House (casa dos colegas Russian Circles e Deafheaven) e momentaneamente deixa de parte a distorção, o
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