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Música

O Que os Simpsons me Ensinaram Sobre Música

É claro que uma série animada que está no ar há mais de vinte anos vai te ensinar alguma coisa. Afinal, eles são veteranos, e você é só um jovem cheio de acne e sonhos.
Emma Garland
London, GB

Entrei no Ensino Médio quando o Coal Chamber bombava, então era difícil ir além da montanha de couro e sussurros agressivos que compunham o nu-metal e encontrar música de verdade. Juntando fitas de vídeos grátis da Kerrang! uma atrás da outra, recorri à galera mais velha em busca de inspiração, enquanto ignorava o fato de estar sendo apresentada a algumas de minhas bandas favoritas por uma fonte improvável: Os Simpsons.

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Desde que me afastei do baile de máscaras cheio de acne que é a puberdade, admiti vergonhosamente que a primeira vez que ouvi o Smashing Pumpkins foi graças a Homer Simpson. Mas isso é só a ponta do iceberg em vista da fortuna de conhecimento que me foi passada pela combinação de interesse musical e necessidade de parodiar tudo de Matt Groening. Aqui estão algumas lições que me ajudaram a passar por uma puberdade obscura pré-internet e que me causaram uma obsessão tão intensa pelo Nirvana que minha mãe quase me mandou pro terapeuta.

NÃO É TÃO DIFÍCIL ME CAUSAR UM SADGASM

Houve um momento no final dos anos 1990 em que zoar o Nirvana seria algo que eu levaria mais como ofensa pessoal do que alguém cagando na minha cara, mas em vez de correr e escrever dezenas de cartas de ódio para o programa, Os Simpsons acabaram me fazendo reavaliar como eu via a música que gostava e a seriedade do derradeiro ato de Kurt.

Em um episódio intitulado “That 90s Show”, Homer relembra sua banda da faculdade, um grupo grunge chamado Sadgasm (resumindo perfeitamente em uma só palavra todo um gênero), que chega ao fim quando Homer se tranca em casa sob suspeita de um problema com drogas. A homenagem vai tão fundo que o jornalista que anuncia o fim da banda é Kurt Loder, que anunciou a morte de Kurt Cobain na MTVem 1994.

As agulhas encontradas no apartamento de Homer na verdade são insulina, porque ele desenvolveu diabetes depois de beber frappuccinos demais. Porém, o episódio resumia a juventude descontente da época melhor do que horas de documentários suspeitos. As letras do Sadgasm que sacaneavam as do Nirvana também eram belíssimas letras para o Nirvana. Não vou nem fingir que não houve uma época da minha vida em que “Pain is brown/ Hate is white/ Love is black/ Stab the night/ Kingdom of numb/ Closet of dirt/ Feelings are dumb/ Kisses hurt” [A dor é marrom / O ódio é branco / O amor é preto / Apunhale a noite / Reino da dormência / Armário de sujeira / Sentimentos são burros / Beijos doem] seria absorvido com total sinceridade por mim, talhado em uma estante de livros ou usado como nick no MSN.

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A CONTRACULTURA É UMA MENTIRA DE MERDA

- Billy Corgan, Smashing Pumpkins.
- Homer Simpson, sorrindo educadamente.

“Homerpalooza” teve um efeito profundo em minha infância – e não só porque o line-up de cada festival desde então tenha sido um desapontamento em comparação (talvez o balanço financeiro do ATP fosse melhor se rolasse Smashing Pumpkins, Sonic Youth, Cypress Hill e um Homer Simpson holográfico?). Talvez seja porque eu tenha crescido no interior do País de Gales, mas quando assisti àquele episódio pela primeira vez, aos 12 anos, não fazia a menor ideia de que bandas eram aquelas. Agora sei que o Billy Corgan é um cara educado e completamente normal que curte ajudar homens de meia-idade em uma crise de identidade – olhadela de lado para a câmera – mas também sei que esses festivais são uma bosta.

Claro, amarrarei uma blusa em torno da cintura e tentarei usar um she-wee de forma tão frívola quanto qualquer um, mas sei que aquela sensação de liberdade que se sente em festivais é uma falácia que vem de viver em uma tenda durante cinco dias e poder andar por aí gritando SERÁ QUE ALGUÉM TEM UMAS DROGA? sem ser presa. Aquela revelação que você teve sentado debaixo de um banner gigantesco com uma camiseta do Goo de 50 paus e comendo um wrap de falafel carésimo na sua sétima ida ao Reading eu tive aos 13 anos assistindo TV.

GENTE FAMOSA EM FORMATO DE DESENHO ANIMADO PODE TE ENSINAR MAIS DO QUE SEUS PAIS JAMAIS ENSINARÃO

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Seja Michael Jackson dublando um paciente em um sanatório que acredita ser Michael Jackson; Johnny Cash aparecendo como guia espiritual em forma de coiote e visitando Homer durante uma alucinação intensa induzida por pimentas; ou o Murphy Gengivas Sangrentas sublimando a depressão de Lisa ao tocar para ela blues no saxofone, cada narrativa dos Simpsons vem com uma lição que só pode ser ensinada através da televisão.

Quando um Johnny Cash amarelo te diz que tudo que você precisa é de uma alma-gêmea e vai dar tudo certo, de repente você pensa, “sabe, meu amigo esquisito e eu estamos nos dando bem, provavelmente vou parar de colocar enchimento no sutiã porque quem precisa de garotos quando existe música?”.

ELITISMO É COISA DE CRETINO

Um monte de gente vive em um mundo onde jogamos cadeiras na direção do 50 Cent por tocar em Reading & Leeds e ficamos de cara feia com a ideiado Metallica como headliner do Glastonbury. Ainda assim, Matt Groening é melhor que vocês, ele entende que elitismo na música é cretinice e quando ele teve a oportunidade de gravar um disco, pensou: “quer saber, por que os dois principais singles não poderiam ser ‘Do the Bartman’, co-escrita por Michael Jackson, e ‘Deep, Deep Trouble’, co-escrita com metade do elenco de Um Maluco no Pedaço?”. O álbum que saiu disso foi The Simpsons Sing The Blues, que ganhou Disco de Ouro nos anos 90 e é, em termos de conteúdo, talvez um dos discos mais variados da década.

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Matt Groening estendeu este mantra ao mundo real também. Ele foi o curador do All Tomorrow’s Parties (antes de chegar perto da falência) em 2010 e botou o Spiritualized pra tocar junto de Iggy e os Stooges. Por que não, né? Ele criou um mundo em que tá tudo bem se B.B. King e DJ Jazzy Jeff estão nos mesmos créditos, onde os Ramones podem tocar no aniversário do seu avô, e Mick Jagger é conselheiro de acampamento. A música é uma força unificadora – não deveria separar as pessoas.

QUALQUER IMBECIL PODE MONTAR UMA BANDA

Pare de reclamar que a música atual é só rebolado e músico de computador e está arruinando suas noções de decência – se Homer Simpson consegue montar um quarteto a capella, tudo é possível.

Siga a Emma no Twitter: @SickBae

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Tradução: Thiago “Índio” Silva