AP Photo/Ng Han Guan
Enquanto a taxa oficial de infecções por coronavírus se aproxima de 5 milhões e as mortes passam de 315 mil, líderes mundiais estão pedindo uma investigação sobre a origem do vírus para entender melhor como a pandemia começou e como a doença se espalha. Mas a China tem outras ideias.Mais de 100 nações participando da Assembleia Mundial de Saúde na segunda-feira devem dar sinal verde para uma investigação independente sobre as origens do coronavírus. Pequim já indicou que vai bloquear uma ação assim, e em vez disso, está circulando a teoria da conspiração que o surto de coronavírus nos EUA veio de um vazamento de um laboratório militar americano.Numa matéria publicada no final de semana na revista do Partido Comunista da China Quishi, o governo chinês dizia que “esclarecer a fonte e a rota de transmissão do novo coronavírus é essencial” para combater o vírus.Mas a matéria cita informação parcial ou relatórios já refutados para reforçar a alegação que o coronavírus não se originou na cidade de Wuhan.O autor da matéria destaca especificamente a situação nos EUA – onde quase 90 mil pessoas já morreram de coronavírus.A matéria cita um artigo publicado em abril sobre variações de coronavírus – descobertas já contestadas por outros cientistas – para afirmar que o vírus que explodiu nos EUA em março “não veio do exterior”.O autor então aponta que muitas pessoas estão questionando por que o Fort Detrick Biological Laboratory foi fechado, se o local conduzia pesquisas com coronavírus, e se houve um vazamento no laboratório.Fort Detrick, em Maryland, era o local do Instituto de Pesquisas Médicas de Doenças Infecciosas do Exército Americano. A instalação fechou agosto passado depois que o CDC encontrou lapsos de biossegurança lá. O New York Time informou na época que a ordem de fechamento veio porque o local não tinha “sistemas suficientes para descontaminar água residual” de seus laboratórios de alta segurança. Não havia indicação de que materiais que pudessem causar doenças vazaram dos laboratórios.Essa é uma variação da teoria da conspiração que oficiais do governo chinês já vinham circulando, de que pessoal militar americano de Fort Detrick importou o vírus para Wuhan em outubro durante os Jogos Mundiais Militares.LEIA: Como a China está reescrevendo a história da pandemia de coronavírus para se passar por heróiA teoria também é uma refutação da teoria da conspiração alimentada pelo presidente Donald Trump e sua administração de que o coronavírus vazou do Instituto de Virologia de Wuhan – uma teoria desacreditada pela maioria dos cientistas.Mas no final de semana, o secretário do Departamento de Estado Mike Pompeo voltou atrás de suas alegações de que o coronavírus se originou num laboratório de Wuhan, dizendo ao Breitbart: “Sabemos que começou em Wuhan, mas não sabemos onde nem de quem, e essas coisas são importantes”.Como parte do argumento de que a China não é a origem do surto, a revista também cita um caso confirmado de coronavírus na França em 27 de dezembro, alegando que o homem não tinha ligação com a China nem um histórico de viagem para o país antes de ser infectado.O que a revista não menciona é que a esposa desse paciente trabalhava num supermercado perto do aeroporto Charles de Gaulle em Paris, e pode ter entrado em contato com pessoas que tinham chegado recentemente da China.Tanto Washington quanto Pequim têm tentado desviar as críticas sobre como estão lidando com os surtos nos EUA e na China colocando a culpa um no outro.Essas narrativas concorrentes e um esforço geral para estabelecer como, exatamente, o coronavírus se espalhou vão dominar a cúpula anual de dois dias da AMS, órgão da Organização Mundial de Saúde.LEIA: A China está lançando uma propaganda ‘wolfpack’ no Twitter – mesmo que seus cidadãos sejam presos por tuitá-laA cúpula, que vai acontecer virtualmente este ano, foi aberta pelo presidente chinês Xi Jinping, que negou qualquer acobertamento: “Desde o começo, temos agido com sinceridade, transparência e responsabilidade”.Agora, mais de 120 países já apoiaram uma proposta de resolução da União Europeia e Austrália pedindo uma investigação sobre as origens do COVID-19. A resolução provavelmente será apresentada na terça-feira se conseguir o apoio de dois terços dos 149 estados-membros da AMS.Mesmo assim, horas antes das reuniões da AMS começarem, o porta-voz do Ministério de Relações Internacionais da China Zhao Lijan disse que Pequim provavelmente não permitirá que uma investigação imediata comece, rotulando a ação como “prematura”.Esses comentários foram reiterados por Xi em seu discurso na AMS na segunda, onde ele pediu “uma revisão abrangente da resposta global ao COVID-19”, mas só depois que a pandemia “estiver sob controle”.Ouça e se inscreva: Via Apple Podcasts / Spotify / Stitcher ou em qualquer lugar onde você escute seus podcasts.Imagem do topo: Uma mulher usando máscara contra coronavírus passa por um grafite “Use sua máscara corretamente ” em Pequim, 15 de maio de 2020. A produção industrial aumentou em abril enquanto a economia chinesa reabria, mas o desemprego diminuiu os gastos dos consumidores, um fator-chave de crescimento, num sinal dos desafios que o Partido Comunista enfrenta para reviver a atividade normal. (AP Photo/Ng Han Guan)Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.
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