FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

Dia de Plebeus

Acompanhamos uma audiência pública no Capão Redondo onde moradores apresentaram denúncias, relatos tristes e anseios de quem convive em rotina com os inúmeros casos de violência registrados ultimamente.

Quinta-feira passada rolou a primeira audiência pública com o recém-nomeado Secretário Municipal de Direitos Humanos, Rogério Sottili, no Capão Redondo, zona sul de São Paulo. A reunião foi organizada por movimentos sociais e moradores de bairros periféricos de São Paulo pra apresentar às autoridades em início de mandato as denúncias, relatos bem tristes e anseios de quem convive diariamente com os inúmeros casos de violência registrados ultimamente e só vê o Estado quando ele aparece fardado. Também foram convocados e compareceram o Secretário da Promoção da Igualdade Racial, Netinho de Paula (PCdoB), e o Coordenador da Juventude da Secretaria de Direitos Humanos, Gabriel Medina, além de vereadores e representações de mandato.

Publicidade

Cerca de cento e tantas pessoas compareceram, em hora útil e véspera de feriado, ao Parque Santo Dias, no Capão Redondo, onde o encontro aconteceu. Tanto que, durante a primeira meia hora do ato, o microfone foi praticamente usado só pra apresentar todas as entidades presentes. Entre elas, mas não as únicas importantes, estavam a ONG Capão Cidadão, responsável pela realização do ato; o Movimento Por Moradia; o Coletivo Fora do Eixo; a UneAfro; o Círculo Palmarino; e o Comitê Contra o Genocídio da Juventude Negra e Periférica de São Paulo, composto por muitos outros movimentos, que ocupou o saguão da Secretaria de Justiça no ano passado. Depois disso, a palavra era passada a cada um dos manifestantes e representantes.

E assim foi por mais de uma hora de intensa indignação — no total, o encontro durou pouco mais de duas horas. Até que chegasse a vez dos políticos se expressarem, o que aconteceria depois que todos fossem ouvidos, os representantes sentaram e escutaram. Alguns destaques: foi sugerida a inclusão de famílias de vítimas da violência em programas de assistência; foram cobrados por uma CPI das Polícias e Milícias de São Paulo e pelo impeachment do governador Geraldo Alckmin; ouviram sobre tristeza e impunidade da boca de um pai que perdeu um filho de 20 anos tido como “vagabundo” pela polícia, e também sobre a descrença em uma polícia humanizada (“A polícia existe pra fazer o papel que já faz mesmo, oprimir pretos, pobres e proteger a propriedade privada de quem tem”); falou-se também sobre mudar a dinâmica de interações com a periferia (“Tem que mudar essa lógica de que a comunidade tem que ir atrás dos políticos, que falam ‘ah, mas não me convidaram’… Nosso convite já foi o voto. Não tem mais que governar para os pobres. Tem que governar com os pobres”, como observa Rafael Mesquita, da Agência Solano Trindade). E muito, muito mais.

Publicidade

No final, os representantes do governo se comprometeram a levar as discussões adiante, inclusive envolvendo outras secretarias e o governo estadual – que é quem responde pela Polícia Militar. “Ele [o prefeito Fernando Haddad], sabendo que a gente vinha aqui, pediu que a gente relatasse tudo pra ele”, explicou o Netinho, que disse se solidarizar com as demandas por já ter vivido algo parecido tempos atrás, quando seu irmão foi morto pela polícia, na zona sul de São Paulo. “Sempre foi a PM que matou de forma desigual, aqui na zona sul, os jovens negros, os pobres. Falo isso com muita tranquilidade porque um próprio comandante da PM em Campinas diz que os pardos e os pretos têm que ser abordados.”

Leia também:

De Coração de Mãe Não se Tira Nenhum

Relato de um PM

Ocuparam a Secretaria de Justiça de SP e se Precisar Vão Ocupar de Novo