FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

Líderes da Oposição Estão Sendo Mortos nas Ruas de Banguecoque

A tensão está crescendo na capital da Tailândia e os manifestantes antigoverno paralisam a cidade. O impasse atual foi desencadeado pela chamada “lei de anistia”, que permitiria o retorno ao país do ex-primeiro-ministro exilado Thaksin Shinawatra.

Um ciclista passa entre as barricadas em Banguecoque.

A tensão está crescendo na capital da Tailândia e os manifestantes antigoverno ainda estão paralisando a cidade. Seus acampamentos vêm sendo atacados e ativistas sendo mortos em plena luz do dia. O estado de emergência foi declarado na semana passada, o que não ajudou em nada, e a oposição promete atrapalhar as eleições marcadas para 2 de fevereiro.

Publicidade

O impasse atual foi desencadeado pela chamada “lei de anistia”, que permitiria o retorno ao país do ex-primeiro-ministro exilado Thaksin Shinawatra. Mas logo os protestos se metamorfosearam em algo muito maior, com os “camisas amarelas” – simpatizantes de classe média do Movimento Civil pela Democracia, monarquistas e que, ironicamente, negam o resultado de qualquer eleição que não saia do jeito deles – exigem a expulsão da família Shinawatra da política, e que reformas generalizadas (em boa parte não especificadas) sejam implementadas por um “conselho popular” não eleito. O tal conselho, claro, seria escolhido por uma minoria a qual eles pertencem.

Seguranças pagos pela oposição procuram por um suspeito após um tiroteio.

O chamado “Fechamento de Banguecoque”, que bloqueou ruas e cruzamentos importantes com acampamentos ao estilo Occupy e barricadas, está entrando agora na terceira semana e há sinais de que os líderes estão se sentindo menos confortáveis no coração da cidade. Várias marchas até prédios do governo foram canceladas por “motivos de segurança” e Suthep Thaugsuban, o líder da oposição, deu uma pausa nas marchas para angariação de fundos.

Os acampamentos de protesto têm sido alvos de ataques desde o começo do fechamento. Noite passada, um deles teria sido alvo de tiros e outro foi atacado com uma granada M79, lançada do viaduto acima. Na noite anterior, a equipe da VICE News estava no acampamento do quarteirão histórico da cidade quando os manifestantes, um grupo formado principalmente por idosos, sofreu um ataque envolvendo bombas “pingue-pongue” – pequenos explosivos caseiros de pavio curto cheios de pólvora – e o que pareciam ser tiros. Não havia proteção e seguranças assustados ordenaram que todos deitassem no chão, vasculhando os prédios próximos com lanternas. De acordo com um dos relatos, a segurança da oposição também enviou um drone para verificar a área, enquanto um dos líderes anunciava, de maneira bastante colorida, que “os lobos saíram para brincar e nós vamos caçá-los”.

Publicidade

No final, eles não capturaram nenhum “lobo” e, provavelmente, nunca irão. Mesmo a aliança dos atacantes não está clara. Acusações politicamente motivadas são trocadas entre diferentes facções. Uma das possibilidades é que os atacantes sejam “camisas vermelhas”, ou algum grupo extremista marginal afiliado ao movimento pró-governo. Mas não há como ter certeza. A situação na Tailândia está uma grande bagunça no momento.

Manifestantes da oposição em frente ao Clube do Exército Real Tailandês.

O caos tem se espalhado desde terça-feira, quando, num comício em frente ao Clube do Exército Real Tailandês, um policial disfarçado teria atirado num manifestante, sendo espancado pela multidão ao redor depois. A apenas 100 metros dali, a primeira-ministra Yingluck Shinawatra se encontrava com o Comitê de Eleição, tentando estabelecer se as controversas eleições deviam ser realizadas ou não. A decisão tomada foi que as eleições, marcadas para domingo, 2 de fevereiro, serão realizadas normalmente. A decisão enraiveceu a oposição, que vê isso como um desafio à exigência de “reformas antes das eleições”.

Naquela noite, em um de seus discursos frequentes, Suthep prometeu paralisar Banguecoque e forçar o fechamento de centros de votação no dia da eleição. “Vamos transformar todas as ruas de Banguecoque em 'ruas de passeio', ruas de piquenique, vamos comer no meio da rua”, ele disse.

Médicos carregam uma vítima do ataque com bombas pingue-pongue.

Publicidade

Semana passada, a “antecipação do dia de votação” foi um vislumbre do que essa ameaça aparentemente boba pode significar. Grupos de manifestantes da oposição impediram que eleitores votassem por toda a capital, apesar de terem prometido que não fariam isso no dia anterior. O dia terminou, como muitos recentemente, com um tiroteio. Suthin Taratin, um líder dos camisas amarelas, foi morto a tiros no meio da rua enquanto discursava para um grupo de manifestantes.

Se Suthep e seu seguidores cumprirem a palavra, o dia de eleição no domingo pode acabar em violência generalizada. Alguns elementos dos camisas vermelhas prometeram mandar grupos de simpatizantes para proteger os centros de votação, mas isso dificilmente vai acontecer sem enfrentamento, o que permitiria que o exército intercedesse, algo que os camisas vermelhas não querem.

O líder da oposição, Suthep Thaugsuban, discursa num comício em Banguecoque.

Por enquanto, os militares continuam mantendo sua aparência de neutralidade, agindo diversas vezes como mediadores em discussões entre os manifestantes e a polícia. Mas o exército está sempre preparado para intervir. Se os generais acharem que a situação está fora do controle, ninguém duvida que eles agirão. O que acontecerá depois disso? Ninguém sabe.

E assim o fechamento segue, o governo continua desafiador e o exército está a postos. Há poucos cenários que poderiam resultar num final feliz. Se a oposição não ver as coisas se desenrolando à sua maneira, ela vai continuar com os protestos e a frustração só vai aumentar. Se eles conseguirem o que querem, os camisas vermelhas pró-governo responderão, talvez com violência. Mesmo se as eleições terminarem com sucesso, ênfase no “se”, é pouco provável que as coisas mudem. É provável que os camisas amarelas não aceitarão o resultado e tomarão as ruas mais uma vez. Não parece que o exército está disposto a agir contra eles e a polícia é incapaz de fazer qualquer coisa. A resolução para essa bagunça está longe. E o caos reina em Banguecoque.

@georgehenton