Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.As fantasias do rock, enquanto tais, sempre foram movidas por canais hiperbólicos e, inclusive, hipertróficos, alimentando um imaginário comum totalmente alienado da realidade. A maioria dos que tocam em bandas de música não bebem champagne dentro de limusinas, nem destroem a casa-de-banho do hotel onde estão alojados. Depois do concerto, limitam-se simplesmente a ir ao hotel, ver DMAX durante um bocado e adormecer a amaldiçoar o facto de terem que deixar o quarto ao meio-dia, depois de dormirem umas míseras quatro horas.
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Dentro de todo este miasma de lendas e sonhos impossíveis, há um mito totalmente idealizado que se mantém intocável: o camarim, esse espaço em que as estrelas de rock engolem banquetes nunca antes vistos no Ocidente e fazem amor com seres para lá de belos. O camarim é o sítio a que toda a gente quer aceder, seja para conhecer a banda, ou para lhes roubar bebidas. O mero facto de conseguir entrar neste espaço separar-te-à do resto da humanidade, elevando-te a um Olimpo divino e impossível, onde se pode caminhar entre os deuses. A graça de tudo isto é que nem toda a gente pode entrar; a exclusividade do camarim é a sua derradeira qualidade.
Mas calma, não é como se os camarins fossem o melhor sítio do Mundo. Nos festivais, um camarim costuma ser uma casinha pré-fabricada com uma folha A-4 na porta na qual está escrito em Arial (tamanho 122, a negrito) o nome da banda. Lá dentro pode ser que haja fruta, amendoins e alguma coisa para beber, não muito mais que isso.Ainda assim, apesar da decepção possível quando te deparas com a realidade, vais querer ficar. Para isso, há umas normas de conduta que deves respeitar quando chega a altura de experimentares um backstage, porque, por muito deprimente que seja, não queres ser mandado embora, já que o importante é estar ali, na exclusividade, é poder contar, no futuro, que estiveste no camarim dos Iceage ou dos Future Islands, a criar inveja e a alimentar a grande farsa dos backstages.
Devoção, entusiasmo e loucura. Um documentário sobre o que é ser fã de música
Mas calma, não é como se os camarins fossem o melhor sítio do Mundo. Nos festivais, um camarim costuma ser uma casinha pré-fabricada com uma folha A-4 na porta na qual está escrito em Arial (tamanho 122, a negrito) o nome da banda. Lá dentro pode ser que haja fruta, amendoins e alguma coisa para beber, não muito mais que isso.Ainda assim, apesar da decepção possível quando te deparas com a realidade, vais querer ficar. Para isso, há umas normas de conduta que deves respeitar quando chega a altura de experimentares um backstage, porque, por muito deprimente que seja, não queres ser mandado embora, já que o importante é estar ali, na exclusividade, é poder contar, no futuro, que estiveste no camarim dos Iceage ou dos Future Islands, a criar inveja e a alimentar a grande farsa dos backstages.
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A TUA REDE DE AMIZADES É IMPORTANTE, MAS UM CHOURIÇO TAMBÉM PODE SER
Se nada disto funcionar, limita-te a passar pelo controlo do backstage como se a tua pulseira fosse a certa, com toda a segurança e sem vacilar. Mesmo que a tua pulseira seja encarnada e seja preciso uma dourada para entrar, se passares com auto-confiança suficiente, de certeza que te deixam.
PAPEL E CANETA. LEMBRA-TE. PAPEL E CANETA
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Um bom truque para ganhar a confiança das bandas é levares uns quantos papéis e uma caneta. Parece parvo, mas não é. Passo a explicar. Antes dos concertos, os músicos procuram estes elementos com absoluto desespero, como cães sub-nutridos nos caixotes de lixo do KFC. Os músicos preferem ter uma caneta e um papel a um catering requintado. Porquê? Mesmo antes dos concertos - só MESMO antes, os músicos não sabem prever as coisas, porque a sua vida é um desastre - as bandas fazem setlists, essas listas que se põem debaixo do pé do microfone nas que estão escritas todas as músicas que vão tocar durante o concerto.Normalmente, vais ver as bandas a arrancar cartões de caixas, ou a dobrar guardanapos para fazer estas listas, mas se apareceres tu com uma caneta e umas folhas de papel vais ser a salvação da noite. Vais tê-los conquistados e, inclusive, ainda te oferecem uma bebida, comida e dinheiro. Lembra-te: papel e caneta.Não aches que estar num backstage te vai mudar a vida, deixa todas as expectativas de lado. Vais ver músicos degradados nos seus momentos mais lamentáveis: nervosos, pomposos, bêbados ou aborrecidamente sóbrios. Pode acontecer encontrares um "musico a sério", essa malta que se prepara para a actuação de uma forma muito séria, como ver a cantora de Beach House a fazer uns exercícios estranhos para reparar a voz. Será aí que se vai derrubar um mito. Achavas que a malta levava as coisas menos à séria e que nos camarins era só gin tónico e gente louca.
NÃO VÁS COM EXPECTATIVAS. O BACKSTAGE NÃO TE VAI MUDAR A VIDA
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Quanto mais a noite avança, mais tens que manter a dignidade. O truque é valorizar as tuas acções com a "lei do idoso". Como é que funciona? Bem, é muito simples. Antes de fazer qualquer coisa - roubar comida, mijar contra a parede, comer uma planta ou gritares muito alto "que alguém faça sexo comigo, pelo amor de Deus!" -, imagina que é um idoso a fazê-lo. Se isso te traz um vertiginoso incómodo e uma tremenda tristeza, então é porque NÃO O DEVES FAZER.A regra mais importante é a de não pegar numa bebida como se fosse tua, pede sempre autorização. E, por mais que queiras, não te armes em esperto a tentar roubá-la. Se te apanharem não te vão dizer nada, mas quando chegares a casa vais aperceber-te que várias pessoas estiveram a usar a tua carteira como cinzeiro. Pensa que, para as pessoas que tocam em bandas, as bebidas são a única constante que têm na vida.De qualquer forma, vais ver que um backstage também não é o sitio mais divertido do Mundo, portanto se calhar é melhor saíres e veres uns quantos concertos e deixares de imaginar o que haverá atrás do palco.
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A REGRA MAIS IMPORTANTE É NÃO PEGAR NAS BEBIDAS COMO SE FOSSEM TUAS, PEDE SEMPRE PERMISSÃO. NÃO TENTES ROUBÁ-LAS.
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