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Comida

Entrei Numa Guerra de Tortas com um Fetichista por Comida

Conheci um cara que tem fetiche por coisas melequentas e marcamos de nos encontrar num hotel tosco em East London.

Meu plano inicial era uma série de entrevistas. Eu pretendia falar com algumas pessoas sobre seus fetiches obscuros, numa tentativa de descobrir o que há de tão erótico em ter uma mulher sentando em você como se você fosse uma cadeira, saber que alguém precisa fazer xixi ou amassar um bolo de aniversário com a bunda usando alguma lingerie estranha.

A variedade de atividades e objetos capazes de fazer alguém gozar me fascina: o que exatamente te excita na ideia de ter uma moça sentando na sua cara? Um adulto brincando de ser bebê é realmente o que parece (pedofilia)? Não consegui achar ninguém que curtisse axilismo para me explicar aquela vez em que um cara tentou gozar no meu sovaco.

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Nessa era de milhões de sites e grupos no Google Hangout para adultos bebês, achei que isso seria moleza — qualquer pessoa pode encontrar o que procura na internet, não é? E até que foi fácil encontrar pessoas que eu gostaria de entrevistar, mas a reputação se mostrou um problema, já que muita gente associa a VICE a deboche. Eu também não conseguia deixar de associar encontros com gente esquisita marcados pela internet com assassinato. Então, quando finalmente peneirei as pessoas que não queriam falar comigo e as que eu tinha certeza que eram assassinas, fiquei com o Stephen, um assistente social de 38 anos que gosta de creme. Digamos que ele gosta muito, muito de creme.

O interesse em creme — ou tortas, lama ou feijão — entra numa ampla categoria de fetiche chamada WAM (“Wet and Messy”) ou ocasionalmente “sploshing”. Fetiches sob esse guarda-chuva são muitos e variados; a UMD.net, “a rede social molhada e bagunçada”, lista areia movediça, jeans molhado, noivas, maionese e banho como pesquisas populares, com links para vídeos que vão do pornô explícito até pessoas completamente vestidas jogando ovos umas nas outras. Basicamente, qualquer coisa que faça meleca tá valendo.

O Stephen foi muito franco sobre seu fetiche particular e pareceu contente em encontrar alguém com quem conversar sobre isso. Apesar de suas guerras de tortas “ocasionalmente” acabarem em sexo e as pagas geralmente envolverem “modelos” nuas, Stephen foi claro sobre sua fonte número um de tesão: o bom e velho número da Mulher Levando uma Torta na Cara. Nada muito elaborado, ele não vê necessidade de a moça enfiar um tubo de chantili na bunda e fazer loucuras com cerejas marasquinos. Ela só precisa levar uma torta de creme (ou um substituto de creme) diretamente no rosto, preferivelmente depois de provocá-lo com algo tipo “Você não ousaria!”.

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“Não é necessariamente uma coisa sexual”, ele disse. “É só um pouco de curtição. Para mim, o rosto é maior do que o corpo. É muito mais importante ver a torta acertando o rosto.” Todo mundo tem suas prioridades, né?

Depois de alguns e-mails preliminares, ficou cada vez mais claro que, para entender essa coisa toda, eu precisaria participar.

Afinal, toda a premissa do fetiche é participativa. São os elementos táteis e sensoriais que tornam isso uma experiência prazerosa, pensei comigo mesma. E isso nem exigia um grande comprometimento da minha parte, eu só tinha que jogar algumas tortas de creme pra cá e pra lá. Não é a mesma coisa que ser amarrada numa cruz de Santo André, ter preliminares com facas ou levar choques genitais.

Enviei um e-mail para o Stephen perguntando se ele topava uma entrevista combinada a uma guerra de tortas e, por incrível que pareça, ele topou. Combinamos de nos encontrar num hotel tosco de East London e, depois de purgar meu cérebro de todas as piadas sexuais reprimidas sobre tortas, eu e meu fotógrafo Jake batemos na porta daquele quarto de carpete imundo, ainda com um pouco de medo de sermos assassinados.

Mas não fomos e, em vez disso, conhecemos o Stephen. Que, como você vai perceber pelas fotos acima, tinha um cabelo muito parecido com o meu. Esperamos que isso não signifique que somos parentes distantes. Não sei quando todos os homens da periferia do interesse sexual combinaram que rabo de cavalo era o lance, mas, aparentemente, todas as pessoas com interesses sexuais considerados incomuns fizeram desse penteado um símbolo de união comunitária.

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O Stephen conseguiu tornar a situação confortável logo de cara, o que é impressionante se considerarmos que isso era uma reunião de estranhos dispostos a jogar tortas uns nos outros e a tirar fotos do evento.

Dentro do quarto, pratos de papel tinham sido enfileirados cuidadosamente, como se fosse um aniversário na casa de uma tia sua. Para minha surpresa, não íamos cobri-los com torta — apesar de Stephen curtir muito tortas de creme, creme de barbear é mais fácil de limpar e mais conveniente em termos de distribuição e transporte. Enquanto misturávamos creme de barbear e corante alimentício numa gaveta de criado-mudo e colocávamos um saco de lixo para proteger a TV de respingos, fiquei refletindo sobre o que eu tinha feito da minha vida, enquanto Stephen me contava um pouco sobre a sua.

Stephen é um cara viajado e mente aberta que se sente sexualmente excitado por tortas e creme desde quando assistia ao programa Tiswas quando criança. Sally James, a assistente rechonchuda do show, foi sua primeira paixão e ele se lembra de ficar excitado quando ela levava tortas na cara ou era “melecada”. Apesar de não conseguir apontar exatamente por que sempre retorna a esse fetiche, Stephen falou sobre os elementos que mais gosta nisso — a brincadeira, a provocação, “um espírito de anarquia cômica” — e os elementos que não curte — usar feijão cozido em jogos de WAN (“Feijão? De jeito nenhum. Que nojo!”) e tortada como humilhação.

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Desde que organizou sua primeira guerra de tortas, por desafio de um amigo, há quinze anos, Stephen conseguiu revelar seu fetiche para algumas de suas namoradas. Ninguém nunca ficou horrorizado com essa confissão. “É simplesmente uma coisa divertida”, ele disse. “Algumas amigas e namoradas já se dispuseram a me ajudar com isso. Há um elemento de comédia nesse tipo de coisa, e as mulheres que participam disso comigo acabam se divertindo muito também. Acho que quando eu contava esse fetiche para minhas namoradas, elas pensavam 'podia ser pior.'”

E ele não está errado. Na lista de respostas possíveis para “temos que falar sobre meu fetiche bizarro”, “quero jogar creme em você” fica entre “sem problema” e “GRAÇAS A DEUS”, dependendo de quão vívida for sua imaginação.

Nesta foto, apresento a vocês o sorriso mais excitante que já dei. Isso tinha um gosto insistente de “o que foi que eu fiz”, com notas de “mas isso é um assassinato, de verdade” e “ainda podemos dar o fora daqui, Jake, minha mãe vai ler essa matéria e, muito provavelmente, a sua também”.

Nossa guerra foi curta. O que parecia uma quantidade monstruosa de pratos de espuma, se esgotou bem rápido assim que a guerra começou.

O Stephen me informou sobre minhas opções, e começamos aderindo vagamente às regras do Campeonato Mundial de Tortas, ficando a três metros de distância um do outro e jogando as tortas somente com a mão esquerda. Como era de se imaginar, ele tinha uma mira muito boa e realmente manjava do negócio (veja acima um ataque duplo, em que só consegui ficar lá parada e ele, aparentemente sem o benefício da visão, conseguiu me acertar dos dois lados com uma força considerável).

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O primeiro golpe dele me atingiu com uma força surpreendente bem no meio da cara, enquanto o meu passou longe e acertou a parede atrás dele. Tenho que admitir, nunca fui muito boa em esportes. Lembrei então de ter participado de guerras como essa antes, quando era criança, numa festa anual do meu bairro. Para uma criança de 11 anos de Moore Park, no final dos anos 1990, guerras de espuma de barbear eram o ápice do verão. As lojas locais ficavam logo sem espuma de barbear, e você tinha que comprar o gel e fazer a espuma você mesmo. O jovem Stephen teria sujado a calça jeans de creme quase que imediatamente, imagino.

Relembrando as guerras de torta do passado, entrei no clima e acabei me surpreendendo com meu próprio entusiasmo, e com o quanto eu estava me divertindo. Como prova, veja esta foto minha, sorrindo como a louca do rímel borrado, sem saber que o Stephen estava prestes a passar dos limites e me dar uma tortada na bunda, cruzando a linha do combinado e me fazendo sentir um bebê de fralda suja, o que já é todo um outro nível de experimento público pseudossexual.

Mesmo não acreditando que a maioria dos outros fetiches não baseados em sexo possam ser tão divertidos assim, eu não me importaria de conhecer um adulto bebê, ou aquela tipo especial de doido, o caixa automático humano.

Não é preciso ser um Sherlock do sexo para encontrar erotismo em cobrir uma pessoa de creme, mas não achei isso particularmente excitante… Talvez por isso o Stephen tenha decidido levar a coisa além.

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Esta parte foi a mais desconcertante. Depois de perguntar seu eu topava “uma coisa extra”, ele me colocou totalmente vestida no box do chuveiro e ficou derramando creme na minha cabeça. A embalagem genérica sugeria que esse produto era do mais barato. O creme estava extremamente gelado, era pesado e tinha um cheiro muito forte de baunilha. Fiquei parada lá, torcendo para que o creme não entrasse em meu olho, e me peguei imaginando se aquilo significava que ele não me respeitava como pessoa, porque ele não tinha nem se preocupado em comprar um produto orgânico ou coisa assim.

Foi aí que meu cérebro mudou de “Hahaha” para “OK, Monica, agora chega, sério”. Não deixei que ele abrisse a segunda caixinha, lavei a gosma de cheiro doce do meu corpo, mandei a mensagem “não fui assassinada e cozinhada” para minha amiga como eu tinha prometido, e peguei o trem para casa, cheirando como alguém que tinha tentado fazer uma barba feita de bolo.

A conclusão disso tudo foi confusa. Acho que eu esperava ver o que há de sexy e divertido na coisa toda, mas participar desse jogo WAN só reforçou meu sentimento de que se trata de algo profundamente bobo, mas parecido com brincadeira de criança do que com preliminar sexual. Para ser honesta, o Stephen também não parecia particularmente concentrado nos elementos sexuais da empreitada, o que me fez sentir simultaneamente aliviada e confusa. No final das contas, eu não tinha a intenção de me prostituir com tortas, mas isso realmente parecia mais um menino grande procurando alguém para brincar e fazer piadas bobas de torta, não um pervertido do Craigslist querendo gozar em bolinhos de padaria.

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Stephen pediu para permanecer anônimo (o nome de verdade dele não é Stephen, dá para acreditar? Te peguei com meu jornalismo!) porque ele não queria que seu passatempo ocasional impactasse seu trabalho com as crianças, uma preocupação que vi em outras comunidades de fetiche.

Existe um medo generalizado, especialmente entre as pessoas que trabalham com crianças, de ser descoberto como um desviado de final de semana e rotulado em sua comunidade profissional como pervertido, impróprio para trabalhar com menores. Essa conclusão, além de ser agressivamente puritana e muito besta, é implausível: alguém que gosta de ser acorrentado nos finais de semana, de se vestir de animal para brincar com outras pessoas vestidas de animal, ou de jogar tortas de creme de barbear numa jornalista da VICE, não tem interesse em crianças. Pessoas assim já sacaram qual é sua bizarrice sexual e buscam praticar isso com outros adultos responsáveis, do jeito como todas as coisas sexuais estranhas (todas as coisas sexuais, na verdade) deveriam ser. Ou não, mas aí é problema seu.

@monicaheisey

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