É assim que "dançamos" debaixo de água

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Fotografia

É assim que "dançamos" debaixo de água

O fotógrafo Gregorio Reche descobre uma nova "fauna" marinha. Momentos íntimos e quase de dança, num ambiente sem gravidade.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.

Descobrimos Gregorio Reche graças à série Aristócratas de El Zapillo, com a qual participou na última edição do PhotoEspaña. Neste projecto, o fotógrafo andou pelas praias de Almería para retratar os banhistas que todos os dias invadem os areais e o transformam num autêntico mar de gente. Como se estivessem em casa.

Gregorio decidiu molhar-se e meter-se (com a sua máquina) debaixo de água para realizar este projecto a que chamou Ingravidez. Uma série que, aliás, tem muito a ver com aqueles aristocratas do projecto anterior que pareciam saídos da década de 80.

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"Há, de facto, uma ligação. O projecto surgiu naqueles momentos em que ia tomar banho depois de fazer as fotos na praia e, entre mergulhos, tive esta ideia. É uma série em que misturo a cor e o preto e branco e onde não há uma relação tão directa com a pessoa fotografada…", sublinha o fotógrafo e professor.

O projecto segue ainda em aberto, já que este Verão, garante Gregorio, "o périplo pelas praias vai continuar". Para já, isto é o que nos conta o fotógrafo sobre estas fotos subaquáticas.

VICE: Fala-nos um pouco sobre este trabalho, o seu título e como surgiu…

Gregorio Reche : Este trabalho surgiu completamente por casualidade. Sou um fotógrafo a quem as ideias surgem nos momentos mais inesperados, não sou demasiado metódico na preparação dos projectos. Assim que me meto nas coisas, entrego-me por completo à causa, mas é sempre um processo muito espontâneo. O título aparece muito mais tarde, na altura em que estou em casa a ver e a retocar as imagens. Foi nesse momento que me lembrei daqueles documentários sobre a vida marinha e os comecei a ligar a filmes de ficção científica baseados em aventuras no espaço. Julgo que na altura tinha visto Gravity, de Alfonso Cuarón, e comecei a relacionar o trabalho com os astronautas e com a falta de gravidade [Ingravidez]…

Porque é que decidiste fazer as fotos no fundo do mar?

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As fotos aquáticas sempre me pareceram muito divertidas. Não aquelas típicas, muito sérias, da fauna e da flora marinhas, mas as de piscinas e das pessoas na orla marítima. E é assim que, no Verão em que experimentei o snorkel quando andava à procura de paisagens subaquáticas para fotografar no Cabo da Gata, descubro que também há uma outra fauna muito digna de se fotografar. Dei-me conta de que há um monte de gente que tem os seus momentos de intimidade com o mar, momentos de relaxe absoluto em que estão num estado de "falta de gravidade e, em alguns casos, quase parecem estar a dançar. É aí que decido atirar-me à água e captar essas situações por vezes cómicas… ou pelo menos a mim parecem-me cómicas.

Só corpos e nada de rostos. Porquê essa opção?

Fundamentalmente agrada-me que as fotos tenham esse anonimato e não haja rostos. Interessa-me mais a acção que ocorre nestas cenas aquáticas, com os corpos robustos a adquirirem movimentos graciosos, num cenário que por vezes parece pantanoso. É aqui que encontro esse ponto anti-gravitacional que me chama muito a atenção, há momentos em que parece quase um exercício de ballet, salvo as devidas distâncias, claro está.

Onde tiraste as fotos e que tipo de câmera utilizaste?

Foram tiradas em várias praias, mas, fundamentalmente, nas zonas do Cabo da Gata e de Almería. Uso uma máquina digital antiga, das primeiras que saíram, para a qual comprei uma cobertura com capacidade limitada ao nível da profundidade. É uma câmera com pouca resolução e por isso o aspecto pantanoso e turvo de algumas imagens…

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Alguém te apanhou a tirar as fotos?

Muitas vezes, mas como vou com os óculos de mergulho, faço de conta que estou meio atordoado e distraído. No entanto, o projecto ainda está activo. Começou no Verão do ano passado e espero continuar este Verão e divertir-me bastante a fazê-lo.