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Esta fórmula matemática mostra como a Ébola se pode alastrar pelo mundo

Tudo pode correr mal, mas ainda não há um plano.

O actual surto de Ébola na África Ocidental é

o pior da história

, com um número de mortos a passar

a marca dos 1900

. Estimativas anteriores da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicavam que o surto acabaria por meados do Outono mas a situação está rapidamente a sair fora de controlo para uma zona desconhecida.

Esta “Epidemia de Ébola é a maior, mais severa e mais complexa que já vimos nos 40 anos documentados da doença” disse há dias Margaret Chan, director-geral da OMS, num

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pequeno briefing

. “Ninguém, nem as equipas de resposta, viram uma coisa assim.”

Yaneer Bar-Yam, um analista de sistemas complexos cujo modelo

previu de forma correcta a agitação global que levou à Primavera Árabe

está também preocupado com os padrões que vê no avanço da doença. Os

modelos de previsão desenhados pelo mesmo para o New England Complex Systems Institute

, em 2006, mostram que o Ébola se pode espalhar rapidamente, e, no pior cenário, causar um evento de extinção em massa, isto se houver pessoas suficientes a conseguirem passar nos aeroportos internacionais.

“O que aconteceu foi que nós estávamos a modelar as dinâmicas da evolução de doenças — de agentes patogénicos — e conseguimos mostrar que, com uma pequena adição de transportes de longo curso, as doenças fogem do contexto local e eventualmente levam tudo à extinção”, contou-nos Bar-Yam. “Elas [estas doenças] levam os seus hospedeiros à extinção.”

Bar-Yam confessou que pôs entidades como a OMS e o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) a par das suas conclusões mas que isso não foi tido em conta.

“Acabei de dar uma palestra para a OMS em Janeiro e contei-lhes. Contei que existia uma transição para a extinção e nós não sabemos quando vai acontecer”. “Mas não obtive respostas relevantes.”

Normalmente, a propagação de um predador — e o termo faz sentido porque a Ébola pode ser vista como um animal invasor — acaba quando explora a sua presa, isto é, o seu próprio alimento. Nas áreas rurais como as que o actual surto está centrado, as doenças têm tendência a conter-se a si mesmas dizimando todos os portadores na área.

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Se um predador agressivo consegue sair do seu contexto local, como por exemplo num voo internacional, as fórmulas de Bar-Yam mostram que consegue evitar a sua extinção local através de uma dispersão de longo alcance. Hoje, o modelo linear do surto faz uma transição estatística para outra dinâmica; extinção de todos os portadores em vastas áreas geográficas, e só a seguir a extinção da própria doença.

Já foi lançado o argumento que um surto de Ébola não seria tão grave no Ocidente como é em África, dado que a fraca infra-estrutura médica nos locais onde a doença atacou foi o principal factor da sua propagação.

“O comportamento de um indivíduo numa grande área metropolitana em termos de relação com sistema de saúde depende de muitas variáveis,” Bar-Yam explica. “Uma pessoa razoável pode agir de uma forma, mas outra pessoa pode agir de outra. Não sabemos o que poderia acontecer se alguém com Ébola vomitasse no metro antes de uma limpeza e se as pessoas perceberiam que tal aconteceu devido à doença.”

O pânico nunca é algo sensato de incitar, porque dele pode resultar o tipo de comportamento imprevisível que Bar-Yam avisa. Contudo, uma dose saudável de medo é outro assunto.

“A questão dá-se, em que altura carregamos no botão de pânico? Como será carregar no botão de pânico?”

A abordagem sugerida por Bar-Yam para conter o surto é radical, o próprio admite, e passa ao lado da resposta atrapalhada da OMS à Korean Airlines, que na semana passada congelou todos os voos para o Kenya. De acordo com a OMS, parar os voos para a África Ocidental torna difícil a entrada de peritos de saúde na região para ajudar. Bar-Yam concorda, mas mantém que o perigo da doença voltar para casa com os peritos é um risco demasiado elevado.

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“Eles estão a dizer que precisam que um grande números de peritos de saúde viaje para lá para lidar com isto. Mas tal não quer dizer que eles tenham de voltar”, “Pode criar-se um sistema de transporte só de ida onde os peritos podem ir para lá lidar com a doença.”

É uma receita que pode arrepiar os peritos de saúde que querem ajudar os africanos que padecem de Ébola sem necessariamente assinar as suas próprias sentenças de morte. No entanto, Bar-Yam conta-nos que as possibilidades da Ébola conseguir entrar numa grande área metropolitana são muito mais sombrias do que qualquer esforço para a conter.

Enquanto que a resposta ao surto tem sido até agora mais ou menos de base individual, pelo tratamento de casos quando surgem enquanto simultaneamente se estuda a infecção, uma tentativa de limitar o movimento à volta da área infetada é uma resposta sistémica, e é exactamente a que precisamos.

“Se o vírus chega a uma área urbana nos Estados Unidos, a forma de resposta aos indivíduos infectados com o vírus não é a mesma resposta sistémica que tem como alvo a disseminação da doença” Disse Bar-Yam. “Precisamos de ter o conhecimento e a compreensão de como elaborar uma resposta sistémica.”

Tradução por Ricardo J. Martins