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Música

Não gostas de fado? Toma cinco razões para ires ver a Gisela João

Podíamos ficar aqui o dia inteiro a elogiá-la.

Fotografia por Sophia Vieira Se o fado nunca fez nada por ti (estamos juntos nisso) é provável que a Gisela João te surpreenda. Quem não for vê-la ao Vodafone Mexefest, no sábado, 30, não sabe o que perde. Sobretudo depois de ler este texto, que te dá cinco razões altamente convincentes para o fazeres. É nascida e criada em Barcelos. É logo um ponto a favor de alguém. Barcelos, conhecida como a cidade do rock, é a terra do Milhões de Festa, o berço de bandas superlativas do campeonato nacional, como The Glockenwise e Black Bombaim, e onde a taina é uma coisa muito séria. O facto de a Gisela João ser de lá é mais uma confirmação de que aquela cidade está cheia de petróleo.  Fotografia por Estelle Valente Não é uma beta como outras. Gisela João (não Gigi ou qualquer outra inflexão burguesa irritante do nome) não nasceu em berço de oiro, mas sim numa família de proletários: a mãe era trabalhadora fabril, o pai emigrante; foi criada pela avó e ainda tomava conta dos irmãos mais novos. Teve de fazer pela vida — canta fado deste pequenina mas só foi para a capital em 2010; até aí teve de fazer tudo sozinha. Apesar de já ter sido considerada a fadista do século XXI por gente como o Miguel Esteves Cardoso, continua a ser uma miúda humilde e a agradecer perdidamente cada elogio que lhe fazem. Ainda por cima prefere cantar no meio do povo do que em casinos e não tem aquela postura messiânica ridícula de quem acredita carregar o legado da Amália. Sem esquecer que fala português em todo o seu esplendor: carrega no calão nas entrevistas, não pede ao jornalista para voltar atrás e saem-lhe da boca pedaços de prosa como “malhar finos”, “fugir com o cu à sardinha quente” ou “tive na minha frente um público que foi de arrepiar o caraças da pedra mais fria de gelinho que a Antárctica tenha para lá escondidinha”. Como não gostar? Canta José Afonso e é amiga da Capicua. Ter referências é logo meio caminho andado para fazer o bem. Gisela João já cantou ao vivo, mais do que uma vez, a “Vampiros” do José Afonso, o tipo que devia ter ganho aquele concurso da RTP “Os Grandes Portugueses”, e rodeia-se de gente boa e talentosa como a rapper portuense Capicua, que rescreveu a letra da “Casa da Mariquinhas” para a versão mais actual que aparece no disco da Gisela. Ah, e adora o grande Ary dos Santos. Respeito.

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É incrível ao vivo.

Pode não ter a voz mais cronometrada e escovadinha do mundo, mas tem um carácter que trepa pelos ouvidos. Além disso, põe tudo cá para fora: varre tudo com uma emoção que até te faz esbugalhar os olhos. Sente aquilo que está a cantar daqui até ao céu. E isso é bonito de se ver.

Sabe que o que é bom é para mostrar.

A Gisela podia perfeitamente ser aquela amiga fixe, esperta e gira que vai connosco para os copos (perdão, malhar finos). Em vez dos trajes pretos e dos vestidos pudicos que tanto se vêem no meio do fado, prefere usar vestidos com pinta que não lembram as avós de luto nem a roupa foleira de muitas fadistas da nova geração. Vestidos bem curtos, porque aquelas pernas merecem andar ao léu. Além disso, desenha e cose alguma da roupa do próprio armário, usa peças da Alexandra Moura (designer de moda portuguesa a ter em conta), tem tatuagens e fotos com gatos no Facebook.

Recapitulando: Vodafone Mexefest, sábado 30, às 20h45 na Sociedade de Geografia de Lisboa. Estamos combinados, ok?