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Sociedade

Sair sozinho: como e porquê

Achas que não sais, porque não queres aborrecer-te sozinho mas, lá no fundo, o que tu tens chama-se vergonha.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.

É sexta-feira à noite e depois de uma semana demoníaca aquilo que tens mesmo vontade de fazer é sair e apanhar uma bezana. Nem que seja no sítio de sempre, com os suspeitos do costume. Mas não há nenhuma alminha que responda às tuas mensagens e acabas por ficar no choco. Na melhor das hipóteses vais à mercearia ao lado de casa comprar uma cerveja para a beberes no sofá. Pois. Achamos mal. Se te apetece sair, sai!

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Achas que não sais porque não queres aborrecer-te sozinho mas, lá no fundo, o que tu tens chama-se vergonha. "Não quero que me vejam aqui sozinho". A culpa é do Liceu. Houve um tempo em que ninguém gostava de ser visto sozinho no pátio da escola e as coisas não mudaram muito desde então. Os rufias da turma gozavam contigo e com a tua loneliness. Com sorte, a malta mais fixe convidava-te a juntares-te a eles: "Vem práqui, não estejas aí sozinha". Nesses 30 minutos de vida social, para quem não era especialmente fluente na matéria, desligávamos o Discman e lá começávamos, a muito custo, a conversar. Não vou armar-me em boa e dizer que não lhes ligava nenhuma. Não tinha confiança suficiente, nem em mim, nem na vida.


Vê também: "Estrada fora em nome de Jesus. Os motards cristãos da Carolina do Sul"


E pronto, a sociedade actual continua dividida pelos mesmos padrões, seja na tua antiga turma no Liceu, na Universidade, ou até no trabalho. O drama continua. Um outro aspecto importante é que facilmente se associa uma pessoa que está sozinha num bar ao alcoolismo e isso não é nada bonito. Não me refiro a ir a um bar e beber até à morte, coisa que, pronto, até respeito. Estou mais a falar de sair como acto recreativo. Simplesmente sair. E os copos de vinho, ou as cervejas que te apareçam à frente, pois, hão-de marchar.

Já chega de andares para aqui e para ali com gente que não interessa assim tanto. Conhece-te a ti próprio. Se calhar és melhor companhia do que pensas. Aqui fica um pequeno guia de quatro passos para te ajudar a saíres sozinho e ainda por cima, divertires-te.

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Nível Inicial. Vai lá abaixo despejar o lixo e deixa-te levar

És um principiante e não sabes se estás preparado, mas sentes-te bem e queres experimentar. Talvez tenhas de ir pouco a pouco, por isso, arranja uma desculpa para ir à rua – deitar o lixo fora, ou comprar um pacote de leite – e não tenhas medo do desconhecido.

Há algum bar a caminho dos contentores? Pede uma imperial e não penses em nada. Não se está nada mal, pois não? Tem sempre presente que uma das melhores coisas de sair sozinho é poderes ir embora quando te apetecer. E uma das piores é que quem paga és sempre tu. Não deixes a carteira em casa.

Nível Médio. Sai de casa, mesmo que não tenhas combinado nada "a sério"

Sabes mais ou menos onde é que a malta costuma ir. Não tens dados concretos, mas também não é grave se não os encontrares. Lembra-te daquela cerveja que bebeste sozinho quando foste deitar o lixo fora (e de como foi fixe).

Aconteça o que acontecer, estás cada vez mais perto da tua meta. Se acabas por encontrar alguém também está bem. Será mais uma sexta feira na tua vida. Aborrecida e igual a qualquer outra.

Nível avançado. Sabes que ninguém vai sair, mas tu decidiste que queres ir beber uma cerveja só para espairecer

Uma semana de loucos atrás das costas e, quando finalmente chega sexta-feira, ninguém quer sair. Cabrões! Menos mal que já quase não precisas deles para descer e ir ao bar da esquina tomar uma cerveja. Ou duas. É a loucura! Das duas uma, ou esta se converte na tua primeira experiência oficial de sair sozinho, ou entras em estado de choque e pensas, já sentado no balcão do bar: "O que é que eu estou a fazer à minha vida?".

O melhor que te pode acontecer é deixares rolar e, sem dar conta, passar dos finos ao gin. Mudar de bar quando o da esquina fechar e perder completamente a vergonha de que te vejam sozinho (e bêbado). O pior: acho que nada. Tu pega em ti e vai ao bar, não tenhas medo. És um homem ou és um rato?

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És um pro. Parabéns! Podes ir onde quiseres, quando quiseres, sem ninguém

Não só não tens problemas em sair, mesmo que ninguém esteja para aí virado, como também achas especialmente agradável isto de fazer planos sozinho. Pouco a pouco vais entendendo as vantagens de te perderes da malta em concertos e festivais. Vais começar a ter dias especiais só para ti, só porque te apetece. Vais jantar fora onde quiseres. Já não tens que gramar com o mesmo restaurante indiano, ou vegetariano de sempre. E vais beber malibu-ananás, porque já não te importas com o que os outros vão pensar.

Já está. És livre. Podes sair e entrar em casa quando te apetecer. Então perguntas: "Mas antes não era livre?" Se tiveste que seguir este guia, parece que não eras assim tanto. Um último conselho. Mesmo que agora curtas imenso sair sozinho, não deixes de telefonar aos teus amigos, nem que seja para lhes contares as coisas maravilhosas que fizeste naquele dia em que ninguém quis sair.


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