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Como Pulei Duas Gerações de Consoles

O que eu perdi esses anos todos afastado do mundo dos consoles? Muita coisa, mas algumas delas imateriais, como experiência e habilidade.

Durante a Copa das Copas, eu tive a oportunidade de complementar a renda familiar cobrindo o que estava acontecendo aqui em São Paulo para a Vice Sports. Como a moeda norte-americana continua sendo mais forte que o pobre Real, pela primeira vez em muitos anos eu tinha um dinheiro que eu podia gastar com o que eu quisesse – fora aluguel, contas, cerveja e comida. Como já escrevi na minha humilde coluna, eu tenho vasta experiência em ser um gamer pobre. E parece que, naquela hora, eu já estava profetizando o que estava por vir: quando eu questionei “Você vai juntar seu suado dinheirinho numa meia furada embaixo do colchão para comprar o Playstation 4 e depois não ter dinheiro para comprar NENHUM jogo?”, bom, foi exatamente isso o que aconteceu comigo. Mais ou menos, já que comprei alguns games.

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Saudades do meu velho Playstation. 

O meu último console foi o bom e velho Playstation: o primeiro, que hoje já adquiriu aquele tom cinza amarelado, tão característico em cemitérios de eletrônicos e pessoas com doença hepática terminal. Só para dar uma contextualizada no Playstation: o primeiro foi lançado no ano de nosso senhor de 1994 quando o CD-Rom era o futuro, os orelhões funcionavam a ficha, usavam fax em vez de internet, ainda existia o emprego de office-boy, o Oasis e o Korn lançavam seus primeiros discos, Kurt Cobain se matou e a moeda Real foi lançada. Se não deu pra entender, faz bastante tempo.

O que eu perdi esses anos todos afastado do mundo dos consoles? Muita coisa, mas algumas delas imateriais, como experiência e habilidade. Eu nunca tive muito acesso a um Nintendo 64 como grande parte da minha geração – e qual a maior habilidade treinada pela meninada do sofá que viria a ser de grande utilidade nos anos seguintes? Usar o controle para mirar em um jogo de tiro de primeira pessoa como 007 Goldeneye, habilidade que nunca desenvolvi. No final dos anos 90, quando tava todo mundo jogando Super Smash Bros. e Goldeneye com seus amiguinhos do sofá, eu jogava Quake Team Fortress com a galera do meu clã, desenvolvendo a habilidade de atirar nos bonecos inimigos com o teclado e o mouse, e não com um controle. Embora eu não tenha tido um videogame recente nas últimas décadas, sempre acompanhei o que estava rolando no mundo das diversões eletrônicas e sempre soube que essa falta de habilidade ia voltar para me morder na bunda, como o fez.

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Pau no cu do Goldeneye, seus saudosistas. 

O que me fez comprar o PS4 em vez de um computador novo ou, deus me livre, de um Xbox One? Como eu não faço a mínima ideia de quando terei dinheiro na minha conta o bastante para comprar outro bem durável, eu pensei em adquirir um console por seu relativamente longo ciclo de obsolescência em comparação aos computadores e também porque o controle do PS4 é animal, além de a Sony estar dando um apoio forte para os jogos alternativos, que, embora costumem mais errar do que acertar, costumam ser mais interessantes e baratos do que os feitos pelas grandes empresas. E qual foi o primeiro game que eu comprei para o meu recente console, da geração mais atual, capaz de processar gráficos maravilhosos? Um jogo de 2012 que absolutamente não aproveita toda a capacidade do console: Diablo 3.

Eu fiquei maluco com o anúncio do Diablo 3 nos idos tempos de 2008. Eu ficava visitando o site da Blizzard para ver eles revelando as classes e habilidades de cada um aos poucos. Eu ficava pensando: “Quem sabe quando eles lançarem o jogo, eu não terei um computador potente o bastante para o rodar”. Claramente eu não tinha um computador que pudesse fazer isso quando ele foi lançado e fiquei até o mês passado sem jogar esse jogo tão aguardado. Eu jogo Diablo desde o beta do primeiro jogo da série, que veio com uma revista PC Gamer da vida; com o lançamento do Diablo 2, eu gastei muito tempo com o meu necromante matando esqueletos, demônios e pigmeus malévolos. Quando eu decidi comprar o PS4, eu queria um jogo com que eu pudesse sentar no sofá e ficar jogando sem pensar em mais nada durante horas e horas, habilidade que infelizmente vamos perdendo conforme vamos ficando mais velhos. Me impressiona a capacidade de não fazer absolutamente mais nada a não ser apertar botões repetidamente que um adolescente tem, e eu queria um pouco daquilo de volta para mim.

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O Gerson, como um verdadeiro gamer, acha que desde os consoles 8 bits o nível dos jogos vem decaindo vertiginosamente. 

Se ficar no sofá com o meu cachorro deitado no colo conta como vida social, o jogo ajudou muito nesse aspecto da minha vida. Antes ele ficava no sofá olhando pra minha cara enquanto eu estava sentado na mesa do computador. Agora dividimos esse gostoso momento de descontração e de games. E depois das várias horas gastas no mundo de Diablo 3 - Reaper of Souls, qual o veredito? Bem o que eu imaginava: o jogo é bem bom e a história é bem medíocre, exatamente como eu queria. Apenas um detalhe da história eu achei uma cagada, e foi um triste fim para o único personagem que nos acompanha desde o primeiro jogo da série, Deckard Cain.

O velho erudito, estudioso dos segredos ocultos da guerra entre o céu e o inferno, morre em um cut scene vagabundo pelas mãos de uma personagem secundária que nem parece encaixar direito na cosmologia construída ao longo da série. A cena é tão deprimente e en passant que me lembrou da morte de Kain no primeiro jogo da série Blood Omen, cujo motivo final de sua morte é ele ser expulso do bar. Não me soa como o começo de uma jornada épica de sangue, violência e poderes mágicos inimagináveis o maluco morrer porque foi expulso do bar, mas, pensando bem, até que é estiloso. De qualquer forma, assim como eu esperava, a história do Diablo 3 e da expansão que veio no pacote completo que eu comprei é bem chinfrim, e essa opinião vem de uma pessoa que tem um romance caracterizado no mundo de Diablo.

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Sim, eu tenho um romance baseado na série de jogos Diablo. Sim, eu li essa porcaria mais de uma vez. 

Toda a cosmologia maniqueísta da eterna guerra dos anjos contra os demônios na qual se passa a história da séria Diablo é um esvaziamento da cosmologia cristã. No mundo de Diablo, o bem e o mal existem ontologicamente dentro dos seres humanos, que são entes medianos entre o céu e o inferno. Trata-se de uma besteirada sem tamanho – e tudo bem. Anos atrás, eu ganhei (e li) o primeiro romance baseado no mundo de Diablo – e sim, ele é um romance de fantasia típico do gênero. Ele não tenta ser outra coisa: funciona bem para a mídia, para o público-alvo e para o universo no qual foi concebido. Ele tem uma história razoável e uma protagonista feminina forte, mortos-vivos seguindo um sujeito dentro de uma armadura amaldiçoada que invoca demônios através de sua própria vontade (da armadura) e um demônio em formato de louva-deus gigante que faz um pacto com um mortal que comanda um exército malvado. Em suma, é um ótimo livro ruim. No final das contas, eu fiquei incomodado com a história ruim do Diablo 3? Absolutamente não, é precisamente o que eu precisava. Só achei meio deprê o Cain ser morto por aquela perua que não se encaixa direito na cosmologia do negócio. Eu vou continuar jogando o jogo pra caralho, e é especialmente maneiro jogar com um amigo no sofá enquanto a porrada come solta pra cima dos demônios do inferno.

Mas a questão da história ruim me leva a outro jogo que eu peguei para o meu mais novo videogame: Infamous First Light. Comprei essa belezinha em um risco calculado com dois pontos fortes. Eu queria sacar como controlar o bonequinho nesses jogos novos – e por novos eu quero dizer os últimos 14 anos, lembrando que o GTA 3 que inaugurou o 3D na série só foi lançado para Playstation 2. O outro motivo é que eu queria um game que mostrasse a capacidade visual do meu possante console. As duas coisas funcionaram bem. O jogo é muito bonito dentro de seu estilão, com belos gráficos, e eu definitivamente não sei controlar essa porcaria direito. A história, como esperado, é uma bosta, mesmo dentro de enredos de filmes e seriados ruins de ação e de super-heróis.

Qual o futuro do PS4? Só o tempo dirá, mas eu consegui uma cópia de Destiny e vou pegá-la esses dias. Embora eu saiba que ele foi feito pela galera que fez o Halo e tem bastante coisa parecida com Borderlands, eu nunca joguei nenhum desses games e serei obrigado a aprender a mirar com o controle do videogame.

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