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Conversamos com os Manifestantes Pró-Palestina em Londres no Sábado

A marcha começou na High Street Kensington, onde fica a embaixada israelense, e terminou na Praça do Parlamento, abordei alguns dos participantes do protesto para saber o que se passa na cabeça deles.

Protestos aconteceram em várias cidades do mundo no sábado, com cada vez mais pessoas se reunindo para mostrar seu repúdio diante da situação em Gaza. No mesmo dia, na Palestina, um cessar-fogo durou tempo suficiente para que os moradores de Gaza pudessem inspecionar os danos causados pelos bombardeios israelenses – ou seja, vasculhar os escombros onde antes eram suas casas e encontrar os cadáveres dos falecidos. Acompanhei o protesto em Londres para saber o que as pessoas estavam dizendo sobre a tragédia.

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Relatos que vêm de Gaza mostram uma situação calamitosa, em que a população está tão concentrada e os ataques israelenses são aparentemente tão indiscriminados que nenhum lugar parece seguro para os civis. Escolas e hospitais são repetidamente atingidos. A ONU disse que Israel pode ter cometido crimes de guerra.

Desde que começou a atingir Gaza com ataques aéreos e artilharia pesada cerca de três semanas atrás, Israel já matou mais de mil palestinos, a maioria civis e muitos deles mulheres e crianças.

Tem havido cada vez mais relatos de antissemitismo desde que o ataque a Gaza começou, como em Paris, onde lojas de judeus foram atacadas e o gesto “quenelle” tem sido visto nas manifestações pró-Palestina. Londres conseguiu ficar quase inteiramente livre desse tipo de coisa. Mas vimos um idiota dizendo que as pessoas tinham que ler o Protocolos dos Sábios de Sião – um livro sobre uma conspiração judaica para dominar o mundo, ainda adorado pelos teóricos da conspiração mesmo tendo sido desmascarado em 1921. E alguns cartazes como esse acima, que desobedece uma ou duas regrinhas para criticar Israel sem ser racista.

Esses judeus hassídicos apareceram para mostrar sua solidariedade a Gaza. A presença deles demonstrou mais uma vez que nem todo judeu apoia Israel e que, portanto, ser antissemita por causa do que está acontecendo lá é idiotice (não que eu precise apontar isso aqui de novo, mas só para garantir). Infelizmente, eles não puderam me dar uma entrevista por causa do sabá.

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A marcha começou na High Street Kensington, onde fica a embaixada israelense, e terminou na Praça do Parlamento, onde vários ativistas e figuras populares fizeram discursos sobre a situação em Gaza. Depois dos discursos, abordei alguns dos participantes do protesto para saber o que se passa na cabeça deles.

A parlamentar Diane Abbott. 

VICE: Oi, Diane. Com os ataques atuais a Gaza, os parlamentares britânicos parecem ter se tornado mais críticos a Israel do que eram no passado, você não acha?
Parlamentar Diane Abbott: Sim. Acho que os parlamentares de todos os partidos estão bem críticos. Infelizmente, David Cameron me parece bastante obstinado. Então acho que temos que aumentar a pressão sobre ele. Ficamos sabendo hoje que mais de mil palestinos já morreram. Esse tipo de derramamento de sangue nunca vai trazer paz para a região.

O que você acha que poderia trazer a paz?
Bom, primeiro precisaríamos de um verdadeiro cessar-fogo, temos que levantar o cerco e os bloqueios e acabar com a ocupação, aí temos que negociar e encontrar uma solução para os dois estados.

E você acha que o Parlamento inglês está fazendo alguma coisa nesse sentido?
Bom, ontem entreguei uma carta assinada por mais de 21 mil pessoas pedindo um cessar-fogo, e vou continuar fazendo campanha por isso ao longo do verão.

Mohammed. 

Por que você veio aos protestos de hoje?
Mohammed: Vim como ser humano. Não é sobre religião ou qualquer outra coisa – é sobre ser humano. As pessoas precisam saber o que está acontecendo em Gaza. Estamos na Inglaterra e não sabemos como estão as coisas lá – não vemos o significado de perder vidas. Então o protesto é importante para mostrar às pessoas o que está acontecendo em Gaza.

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Você acha que muita gente a essa altura não sabe o que está acontecendo em Gaza?
Sim. Temos que mandar uma mensagem de que o que os palestinos têm enfrentado desde 1947 é uma afronta à humanidade. As pessoas precisam se expressar como seres humanos contra a ocupação israelense. Eles estão matando civis e dizem que isso se justifica como defesa.

Em sua opinião, qual é a melhor coisa que as pessoas na Inglaterra poderiam fazer por Gaza?
As pessoas precisam vir para os protestos, mas, para ser honesto, o mais importante é boicotar tudo relacionado à economia israelense. Se a economia deles entrar em colapso, a guerra em Gaza vai parar. Eles conseguem dinheiro com os EUA e outros países, com isso eles compram armas e munição. Isso precisa parar. As pessoas devem boicotar todo produto israelense.

Ibrahim Khan. 

Oi, você pode nos dizer por que veio ao protesto hoje?
Ibrahim Khan: Viemos de Yorkshire – dez ônibus lotados. As pessoas estão enojadas com esses 60 anos de atrocidades. Jovens e velhos, ricos e pobres, todos estão se unindo e buscando justiça. E é isso: percebemos que não haverá paz se não houver justiça – essa guerra perpétua continuará dia e noite, ano após ano.

Qual é o plano a longo prazo de Israel em Gaza na sua opinião?
Bom, alguém disse uma vez que a definição de loucura é fazer a mesma coisa de novo e de novo, e esperar resultados diferentes. E é isso que Israel está fazendo. Acredito que Israel está num estado de loucura no momento. Eles fizeram isso em 2007, 2009 e 2012. E estão se repetindo agora em 2014. Só vamos ver uma mudança política se gente suficiente sair às ruas como fizemos hoje.

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Você acha que esses protestos farão alguma diferença?
Sim. Tenho protestado nos últimos quatro anos e posso te dizer uma coisa: o movimento nunca foi tão grande e forte como é agora. Acho que essa é a maior manifestação que já vi. Semana passada éramos centenas de milhares de pessoas nas ruas.

O parlamentar Jeremy Corbyn. 

Você esteve em Gaza diversas vezes – como estava a situação lá em sua última visita?
Parlamentar Jeremy Corbyn: Sim, estive lá várias vezes nos últimos 20 anos. Em certo nível, havia muita esperança – muitas plantações e muita agricultura. As pessoas estavam determinadas a tornar Gaza autossuficiente na questão dos alimentos. Havia um grande problema em relação à água. A educação no geral era muito boa. O principal problema era a falta de empregos. Não há uma economia funcional por causa do cerco. A saúde mental das pessoas é um problema, porque eles estão constantemente sitiados. Visitei uma escola da ONU da última vez que estive lá; do quarto andar você olhava pela janela e via, de um lado, o muro de Israel, e do outro, o mar e os navios da marina israelense três quilômetros à frente. E essa é a vida deles. Há quedas frequentes na energia e você olha para o lado de Israel e as luzes continuam brilhando. Essa é a realidade de se estar sob cerco e ser constantemente lembrado de que “você está sitiado e vai fazer o que eu mandar”.

Você mencionou em seu discurso que países como Brasil e Chile pausaram relações diplomáticas e comerciais com Israel. Você acha que é possível que a Inglaterra faça o mesmo?
Países europeus são muito mais envolvidos economicamente com Israel do que países da América Latina; temos um acordo de comércio entre União Europeia e Israel que dá status preferencial a Israel – e que é muito importante para o país. Mas esse acordo tem uma cláusula de direitos humanos, que Israel têm realmente ignorado. Que o Reino Unido rompa relações com Israel parece, por um ângulo, improvável. Mas veja por outro lado: se o conselho de direitos humanos da ONU investigar e descobrir que crimes de guerra foram cometidos, ainda estaremos em posição de continuar fornecendo armas? Vamos realmente tentar ter um relacionamento normal com um governo como esse? As opiniões no Parlamento têm mudado muito recentemente. Na última segunda-feira, no Perguntas ao Primeiro-Ministro, um número substancial de parlamentares criticaram Israel. E isso vem de um lobby grande de grupos como a Campanha de Solidariedade ao Povo Palestino e outros.

@owebb

Siga nossas atualizações sobre a situação em Gaza na série Foguetes e Vingança.

Tradução: Marina Schnoor