Esses Caras Querem Transformar o Brasil no País do Esqui

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Esses Caras Querem Transformar o Brasil no País do Esqui

Fazer nevar vai ser difícil, mas convencer todo mundo a enfiar o pé no gelo até que dá.

Fotos por Felipe Larozza

Sujeitos de terno, policiais militares, motoristas e trabalhadores de todos os tipos franzem as sobrancelhas enquanto cruzam a Avenida Paulista, em São Paulo, no horário de almoço. Alguns até sacam o smartphone do bolso quando percebem dois caras vestidos dos pés à cabeça como se estivessem nos alpes suíços. A cena ganha ares de surrealismo quando, apesar do céu cinza, o termômetro de rua aponta a temperatura do dia: 30°C, cravados.

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Por baixo das roupas de homens das neves, estão o brasileiro João Góes e o espanhol Eduardo Herrera. Eles querem transformar o nosso tropical país num polo de esqui. Juntos, ergueram o Brasil Ski Club, o primeiro e único em terras tupiniquins.

Nascido em São Roque, interior de São Paulo, João teve o primeiro contato com o esporte quando foi trabalhar na pista de plástico que existe em sua cidade natal. Lá, a "pendente" (nome da rampa) é regada com água e sabão de côco. Não dá pra virar profissional, mas ele diz que "pra começar, é perfeito".

Eduardo vem de Málaga, sul da Espanha. Para conseguir bancar o sonho de se tornar professor de esqui, passou um tempo vivendo dentro do próprio carro e trabalhando em supermercados e como garçom nos entornos de estações de esqui, sempre instaladas nas montanhas geladas.

Hoje, os dois são professores e dividem o ano em três partes: durante quatro meses, dão aulas na Áustria; passam mais quatro meses ensinando a esquiar na Argentina; e, depois, retornam ao Brasil. Assim funciona o clube, convidando brasileiros inexperientes a visitar países frios e enfiar os pés nas botas quentinhas.

O intuito é disseminar o esporte por aqui. João fala o tempo todo em tocar um projeto social junto com o clube. Em São Roque, eles dão palestras em escolas públicas para apresentar o mundo da neve às crianças. "Vim de uma família classe C. Ali nascia um sonho, que era conhecer a neve. Quero dividir isso."

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Vera Goes, irmã de João e diretora de marketing do clube, fala sobre a possibilidade de incentivar o esporte não só como turismo, mas como competição. "Por que não transformar o Brasil num país do esqui também? Não vamos fazer nevar por aqui. Impossível. Mas temos como preparar atletas e, de repente, até participar das Olimpíadas de Inverno", enfatiza.

João explica que o esporte não é barato. Em média, uma diária na Áustria custa 350 euros. "Mas os brasileiros viajam muito pra esquiar." Isso motiva ainda mais os professores a apostar na iniciativa.

Pergunto se as pessoas acham tudo isso muito maluco e, com alguma poesia, Vera responde que "a ideia parece surreal. Mas do surreal vem o real". Boa sorte pra vocês, caras.

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