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Estou Tentando ser Bissexual, mas Fracasso Miseravelmente

Ser bissexual também não é fácil não.

Foto por Maggie Lee. 

Sempre me considerei principalmente homossexual. Quando criança, eu assistia a pornô através da estática pela antena parabólica dos meus pais e sempre me sentia mais atraída pelos montes deliciosos que pendiam do sexo feminino. Sempre que eu via filmes antigos, eu desejava ser o herói da matinê, não a moça ingênua de lábios de rubi, porque no final ele a beijava. Passei décadas cobiçando minhas amigas, conhecidas e baixistas de bandas de rock. E, ainda assim, depois de 31 anos na Terra, nunca fiz nada a respeito disso. Porque tenho medo.

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Quando eu estava no colegial, me apaixonei. Bom, o que uma pessoa cujo cérebro ainda não se desenvolveu completamente considera se apaixonar. O nome dela era Melissa. Ela "só ouvia as coisas mais antigas do Billy Joel" e tinha um colchão d'água. A gente deitava na cama dela, embaixo do cartaz do filme Romeu e Julieta, e passávamos horas falando sobre o quanto a gente odiava nossos colegas. Os óculos dela eram enormes, o nariz dela era enorme, seu mal-estar era maior ainda. Fiquei obcecada.

Invadi a sala de artes para roubar as fotos dela com cara de sofrimento em frente a suas pinturas medíocres. Tirei minhas próprias fotos dela, revelei e coloquei em porta-retratos na janela do meu quarto de infância. Eu achava, claro, que ela era gay. Quer dizer, ela exalava isso, de corpo e alma.

Um dia, incapaz de continuar lidando com a angústia física dos meus sentimentos não revelados, escrevi uma declaração épica de amor juvenil e enviei para o rancho inclassificável onde ela morava com os pais ausentes. Ela era minha Alice. Eu era sua Gertrude. Logo, ela veria quão maravilhosa nossa ligação criativa, ou vínculo sáfico, podia ser. Pelo menos, era o que eu pensava.

Lembro vividamente da tarde em que soube que ela tinha recebido minha carta. Nas aulas, ela evitou minhas tentativas de contato visual, anteriormente aceito e ansiosamente recebido. Sempre que eu me aproximava, ela ia embora silenciosa, me informando sem palavras do pior. Aparentemente, eu tinha julgado mal a extensão da homossexualidade dela. Talvez ela não estivesse pronta para aceitar seu verdadeiro eu. Talvez eu tivesse me enganado totalmente. Sendo assim, passei o resto da minha vida no colegial comendo M&M's sozinha na biblioteca na hora do almoço.

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Encarando minha derrota esmagadora, fiz a única coisa que podia fazer: ignorei meus sentimentos e passei os dez anos seguintes pulando de pretendente macho para pretendente macho (porque, como todo mundo sabe, só existem três maneiras de lidar com seus problemas: oração, violência ou evasão).

Foto por Jamie "Lee Curtis" Taete. 

Aceitei a atenção heterossexual como o evangelho e fiz o meu melhor para ser uma garota boa, decente e heterossexual. A alternativa era ser feita de idiota, uma injustiça que eu não estava disposta a aceitar de novo. O fantasma da Melissa, da sua rejeição, pairava sobre mim, impedindo que eu sequer pensasse em tentar de novo. E assim, por anos, ignorei meus sentimentos sáficos e a pornografia cheia de estática da minha infância.

Até agora. Finalmente, aos trinta e um anos. Estou disposta a aceitar quem sou e abraçar essa faceta do meu caráter sexual, porque estou velha demais para ter medo. Mas o fato de ser tão velha, e tão inexperiente, me deixa perdida. E agora?

Tenho muitas amigas que se dizem bissexuais, mas nunca vi nenhuma delas com outra mulher. Estariam elas mentindo para atrair a atenção masculina? Ou também têm medo? Não faço a mais puta ideia. Só sei que me sinto desconfortável falando com elas sobre nosso interesse compartilhado por buceta. E chamá-las para sair? Nem pensar.

Não só sou péssima em ser bissexual, sou péssima em me identificar como uma. Sinto-me desconfortável sempre que meu amigo Guy, um homossexual de carteirinha, me implora para assumir o rótulo "queer". Da mesma maneira que não me sinto confortável em me identificar como alcoólatra (porque - sabe? - o Estado nunca levou meus filhos apesar de eu não conseguir parar de tomar Lime-a-Ritas de Bud Light), me identificar como queer, quando não sou inteiramente gay, parece falso. Eu sei que fiz parecer que ficava com caras a contragosto, mas te asseguro: adoro pau.

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Queer me parece um título que você conquista - não que recebe. E eu? Eu sou só muito covarde. Nunca me xingaram por ser gay. Minha família nunca me ostracizou por ser quem eu sou. Nunca lutei emocionalmente com isso. Não foi me apaixonar pela Melissa que fez eu me sentir péssima, foi o ferrão da rejeição dela. Nunca senti culpa ou vergonha da minha semi-homossexualidade. O que, combinado com o fato de que nunca fiz nada sobre isso, faz com que eu me sinta uma fraude.

Não é uma competição, eu sei, ser o mais humanamente gay possível para acompanhar os Cleve Jones da vida. Mas seria legal ser pelo menos um pouco completamente gay. Outra noite, uma amiga me convidou para jantar na casa dela para solenentemente me informar que estava "gostando de mim". Ao receber essa informação, meus olhos saltaram da minha cara como num desenho do Tex Avery; pensei comigo mesma "hummina-hummina-hummina" e, imediatamente, comecei a tomar uma garrafa inteira de vinho.

E, no final das contas, dei o fora antes que a coisa ficasse séria. Por quê? A mina me queria! Eu a queria! A rejeição não estava espreitando num canto. Ela nem estava no prédio! E, ainda assim, fiquei aterrorizada. Provavelmente por eu não saber que porra eu estava fazendo? Por eu ser uma amadora de 31 anos? Jesus. Se pelo menos agir queer fosse tão fácil quanto ser queer.

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Tradução: Marina Schnoor